"Os membros da UE estão profundamente divididos relativamente às decisões do Tribunal Penal Internacional (TPI)", lamentou Borrell, referindo-se ao mandado de captura emitido na passada quinta-feira contra o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e o seu antigo ministro da Defesa Yoav Gallant.

"Esta é uma decisão jurídica, não política, e não tem nada de antissemita", insistiu Borrell durante um discurso em Nicósia perante delegados palestinianos e israelitas que trabalham para uma solução de dois Estados para o conflito palestiniano.

"Quando o Tribunal, criado com o apoio retumbante de muitos membros da UE, pediu a detenção do Presidente russo, Vladimir Putin, muitos aplaudiram e essas mesmas vozes estão hoje em silêncio", afirmou.

"Temos de proteger o direito internacional contra aqueles que o minam", insistiu, lembrando que vários senadores norte-americanos prometeram aplicar sanções contra qualquer país que colabore com o Tribunal Penal Internacional.

O presidente do Parlamento Europeu apelou também à "coerência" no confronto com "aqueles que estragam a paz", para evitar acusações de dois pesos e duas medidas que prejudicariam o papel de Bruxelas.

Borrell recordou que a UE há muito que aplica sanções contra os grupos palestinianos Hamas e Jihad Islâmica, que considera terroristas, mas que só este ano começou a utilizar a mesma medida contra os colonos israelitas extremistas na Cisjordânia, "que cometem ataques violentos contra os palestinianos".

E sublinhou que a UE vetou as importações da Crimeia após a anexação russa, mas nunca fez o mesmo em relação à Cisjordânia ocupada, e que nem sequer "implementa com entusiasmo" a regra de rotular corretamente os produtos produzidos pelos colonos "para que os consumidores saibam que provêm de um território ocupado".

"Borrell citou um provérbio espanhol para sublinhar a importância de uma informação correta sobre o conflito palestiniano, uma vez que a "batalha da narrativa é travada na internet" e "os algoritmos do ódio são mais rentáveis do que os da paz".

O eurodeputado criticou Israel pelo "bloqueio à imprensa mais longo da história", que impede os jornalistas de trabalharem em Gaza, ao mesmo tempo que se queixa da falta de fiabilidade das notícias sobre a Faixa de Gaza.

"Netanyahu não pode apagar as luzes em Gaza e depois queixar-se de que não se vê nada", afirmou Borrell.

O chefe da diplomacia da UE, que vai deixar o cargo no próximo mês, disse que "em tempos a UE foi relevante" e que poderia voltar a sê-lo se estivesse disposta a usar a "coerção" para defender a aplicação do direito internacional.

Israel é um dos parceiros comerciais mais próximos da UE e quando Israel "viola os direitos dos palestinianos, o que é inegável", deve enfrentar consequências, afirmou Borrell.

O diplomata espanhol apelou também à luta contra o antissemitismo, "uma das piores invenções da humanidade", mas sublinhou que criticar o Governo de Netanyahu "não é antissemitismo".

"Não usem esta palavra em vão", concluiu Borrell.

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