Ler-se que uma equipa foi em busca do empate e conseguiu é, normalmente, algo bom para essa equipa. Este sábado, na Vila das Aves, a equipa da casa, que agora é AFS mas já foi AVS, modernices do futebol, foi em busca do empate e conseguiu, para alegria dos adeptos e jogadores. Mas do outro lado esteve uma equipa que foi em busca do empate e também conseguiu, para tragédia dos adeptos e jogadores. Porque o Benfica da 2.ª parte deste jogo foi um conjunto de jogadores tresmalhados que, da forma como entregou o jogo, só podia estar em busca de um mau resultado, de más notícias.
O empate (1-1) fora trava uma série de oito vitórias consecutivas, de 100% de sucesso de Bruno Lage em jogos de I Liga e, consequência mais dolorosa, impede que os encarnados possam ser líderes do campeonato na quinta-feira, caso vençam o Nacional. A culpa é própria.
Mas não sejamos injustos. O surpreendente descontrolo do Benfica na 2.ª parte ajudou ao resultado final, mas a forma como Daniel Ramos preparou a equipa após o intervalo foi tão ou mais essencial para um empate que é justíssimo para os casa, conseguido já em horas extraordinárias num livre bem trabalhado e de bela execução. Depois de um início de jogo forte do AFS, o Benfica tomou conta do campo em organização ofensiva, ainda que sentindo dificuldades na hora de criar para Arthur Cabral, esta noite titular, tal como Beste, António Silva, Leandro Barreiro e Amdouni.
O golo aos 17 minutos foi, no entanto, um prémio pelo que os encarnados estavam a tentar trabalhar no corredor central, nascido de uma gigante jogada, de um momento de inspiração coletiva que faltaria mais tarde ao Benfica: Amdouni, Aursnes e Akturkoglu dançaram em combinações e apoios frontais na área do AFS, com o avançado suíço a ser o fiel depositário da missão de rematar rasteiro e colocado para abrir o marcador. O AFS não mais se levantou na 1.ª parte, apertado num colete de forças que era o jogo em posse dos encarnados, que antes do intervalo quase aumentavam a vantagem, com um remate colocado de Akturkoglu.
Ao intervalo, tudo mudou. A entrada de Tunde permitiu a Lucas Piazon tornar-se dono do corredor central do AFS e o Benfica, com a saída de Leandro Barreiro para a entrada de Di Maria, perdeu o meio-campo. Mas o crescimento da preponderância do médio brasileiro do AFS foi o pivô da mudança, com Tunde a oferecer também soluções mais lateralizadas. Nenê, 41 anos cheios de classe, substituiu o lesionado Zé Luís e lançou o pânico na área do Benfica. Ficou perto do golo aos 63’ (impressionante remate de moinho) e aos 66’, com a bola a embater no poste da baliza de Trubin, que logo de seguida defendeu a recarga Fernando Fonseca. A equipa da Aves, em plena blitz, entrava em bastiões encarnados por tudo o que era caminho.
A confiança que o AFS mostrava com bola era inversamente proporcional ao estado de abandono do Benfica, perdido em campo, perdendo bolas atrás de bolas no primeiro terço, inofensivo quando conseguia chegar a zonas altas. A entrada de Florentino, demasiado tardia, tirou ainda de campo um Kökçü desaparecido em combate depois da 1.ª parte. O jogo ficou ligeiramente menos partido, por momentos o Benfica pareceu controlar melhor as saídas do AFS, mas na parte final do encontro a equipa da casa voltou a acreditar e a ser ambiciosa. E o Benfica recuou. Em demasia.
O golo aos 90’+4 é, por isso, um prémio merecido. Um livre frontal, que Piazon lançou para o segundo poste, com Roux a servir de intermediário para o cabeceamento de Cristian Devenish. A felicidade procura-se e o AFS foi em busca dela com todas as suas forças. E o Benfica, incompreensivelmente, limitou-se a assistir. Os dois, à sua maneira, foram em busca do empate.