Nuno Borges viveu “um ano incrível” em que superou “todas as expectativas”: encerrou 2024 como 33.º do mundo, atingiu os oitavos de final do Open da Austrália e dos Estados Unidos e venceu o primeiro título ATP, em Bastad, na Suécia (e logo contra Rafael Nadal).
O tenista da Maia começou a época no 66.º lugar do ranking ATP e, nessa altura, confessa, “já tinha excedido as expectativas de carreira há muito tempo”. E não se ficou por aí: ao terceiro torneio da época, o major australiano, tornou-se no primeiro português a chegar à quarta ronda em Melbourne Park.
“Não estava à espera que acontecesse assim tão rápido e que as coisas evoluíssem assim desta maneira. Mas a verdade é que o ténis vai e volta e muda muito de repente. O ano passou a correr e foi incrível. É mesmo surreal. Eu achava que não tinha o nível e fui simplesmente à luta, fui tentando e as coisas foram acontecendo”, começa por contar, em entrevista à Lusa, após umas férias de final de época em Belgrado com um amigo do ‘college’, e outro período passado em Amesterdão e Maia na companhia de amigos de infância.
No regresso ao trabalho no Jamor, onde já está a fazer a pré-temporada com a equipa técnica do Centro de Alto Rendimento (CAR) da Federação Portuguesa de Ténis, Nuno Borges recorda as sensações pouco positivas em vésperas do primeiro torneio do Grand Slam de 2024 e a estratégia adotada para enfrentar os desafios.
“Não estava nada bem. Não estava a conseguir desfrutar, havia qualquer coisa que faltava no meu jogo e eu estava um bocadinho sem confiança. Sinto que houve uma maneira de atacar certas situações que mudaram um bocadinho. Comecei a assumir, a deixar de pensar tanto nas coisas e passei a pensar em jogar um set de cada vez, sem me preocupar que seria à melhor de cinco sets, porque são pensamentos que só me puxam para trás e desmotivam”, lembra.
Na estreia, diante do belga Maximilian Marterer (96.º ATP), travou um duelo “muito sofrido”, mas começou a sentir-se “muito bem em campo” e saiu com a vitória. Seguiu-se o espanhol Alejandro Davidovich Fokina (24.º ATP), que sentiu estar “um bocadinho cabisbaixo” e conseguiu aproveitar da melhor maneira “para crescer” e se mostrar “super confiante.”
Depois de alcançar a melhor vitória da carreira frente ao búlgaro Grigor Dimitrov (13.º ATP), foi travado na quarta ronda pelo russo Daniil Medvedev, então número três mundial, mas nessa altura já tinha elevado os níveis de confiança para o resto da época.
“Consegui agarrar essa confiança e continuar a construí-la nos meses a seguir, enquanto me sentia bem, o físico acompanhava e a confiança esteve lá em cima”, refere o maiato, de 27 anos, elegendo o Open da Austrália e o major norte-americano como “dois momentos altos do ano.”
Pelo meio, Nuno Borges revalidou o título do Challenger 175 de Phoenix, em março, estreou-se a vencer num torneio de Masters 1.000 em Roma, onde só foi eliminado na quarta ronda pelo futuro campeão, o alemão Alexander Zverev (então 5.º ATP), num encontro do qual guarda “boas memórias”, e em julho ganhou o primeiro título ATP em Bastad, tornando-se apenas no quinto jogador a bater o espanhol Rafael Nadal numa final em terra batida.
Graças à presença na terceira ronda no Masters 1.000 do Canadá e nos oitavos de final do Open dos Estados Unidos, o tenista do CAR do Jamor atingiu, a 9 de setembro, o melhor ranking de sempre, ao subir ao 30.º lugar da hierarquia mundial. Melhor só João Sousa, 28.º do mundo em maio de 2016.
“Consegui ser extremamente consistente durante o ano e ganhar bastantes encontros, apesar de o final não ter corrido tão bem, com algumas dificuldades físicas e mentais. O ano acaba por ser muito longo e é difícil conseguir estar em boa forma sempre, até porque estou sempre no redline, sempre a puxar pelo limite a jogar à melhor de cinco sets. Às vezes saio do campo estourado. Mais as emoções que tudo isso traz. Acaba por ser sempre um ano mesmo pesado, mas olhando para trás, super enriquecedor”, frisa, lamentando, contudo, o ano difícil para a seleção nacional na Taça Davis.
Apesar do Grand Slam norte-americano, a par da época de relva, ter sido um dos momentos difíceis e ter “pesado muito a nível mental e físico”, por ter passado o resto da temporada “a tentar recuperar a 100% desse torneio”, no qual contraiu uma lesão no pulso esquerdo que o afastou da competição mais de um mês, o jogador português diz que valeu a pena.
“Fui a jogo para lutar por ganhar e estava a conseguir. Nós jogamos para estar nestes torneios grandes e nem sempre estas vitórias são possíveis, portanto sempre que vem uma ou outra aceito. Não dava para ter feito as coisas de outra maneira. Dei o ‘litro’ e fiz as coisas como achei que tinham de ser feitas. Foi o que foi. Foi muito bom”, confessa.
Após o último torneio do Grand Slam, Nuno Borges só voltou a competir no ATP 500 de Basileia no final de outubro e nos últimos três torneios, Masters 1.000 de Paris e ATP 250 de Belgrado, não somou qualquer vitória, tendo encerrado a temporada no 33.º lugar no ranking ATP.