Com tantas startups a surgirem e ideias que vão além do que alguma vez imaginámos, pode ser fácil pensar que o futuro está apenas nas mãos dos empreendedores e fundadores. Mas a verdade é que, sem visão, e, sobretudo, sem capital, nem as melhores ideias sobrevivem.

Os stakeholders do capital de risco sempre foram decisivos em filtrar as ideias que, efetivamente, chegam a ver a luz do dia. Por um lado, temos os limited partners (LPs) com capital pronto a ser investido em fundos de capital de risco. Por outro, temos os general partners (GPs), gestores ágeis desses fundos, sempre em busca daquela que acreditam ser a próxima grande inovação. O que muitas vezes passa despercebido é que a verdadeira construção do futuro acontece quando estes dois mundos se encontram, isto é, quando o capital e a visão se sentam à mesma mesa e constroem uma relação baseada na confiança. Com base num estudo de 2023 do PitchBook, 68% dos LPs dizem que conhecer GPs pessoalmente afeta significativamente as suas decisões de investimento.

O mundo do capital de risco tem vindo a sofrer alterações nos últimos anos, adaptando-se a uma realidade em constante mudança. Uma destas alterações reflete-se no facto de os LPs já não procurarem apenas retorno financeiro. Perante um planeta em crise climática e com desigualdades crescentes, o impacto social e ambiental das inovações tornou-se incontornável. Neste sentido, os eventos que juntam LPs e GPs ganharam uma relevância ainda maior, permitindo que aqueles que tomam as decisões partilhem ideias, visões estratégicas, necessidades e tendências.

Quando, à mesma mesa, temos a visão e o capital, como nos eventos do SuperReturn, IPEM e 0100, por exemplo, o futuro está em construção. Ao permitir que os LPs influenciem as teses de investimento, os GPs podem ficar sensibilizados para a necessidade de novos focos de inovação, desde novas geografias, mercados ou até setores até então negligenciados. Este tipo de colaboração entre dois pilares fundamentais do ecossistema tem um impacto profundo e torna o investimento em capital de risco mais maleável e mais alinhado com aquelas que são as expectativas do mercado e da atualidade.

Ao permitir esta articulação entre capital e intenção, o ecossistema ganha não só eficiência, mas também profundidade. A Europe Invest estima que a participação em eventos de LP/GP voltará aos níveis anteriores a 2020, com mais de 80% dos GP inquiridos a planearem participar em pelo menos mais de três conferências presenciais em 2025. Já não se trata apenas de encontrar a próxima startup disruptiva, mas de garantir que o próprio terreno onde essa disrupção pode florescer está a ser preparado com consciência estratégica. É neste espaço de decisão — antes da tecnologia e antes do produto — que se definem os contornos reais da inovação.

O futuro não será moldado apenas por ideias arrojadas ou fundadores carismáticos, mas por aqueles que repensam ativamente como, onde e com quem o capital é aplicado. Está na altura de ir além da pergunta “qual é a próxima grande ideia?” e começar a perguntar “quem está a criar as condições para que ela surja?”. Participar em eventos de LP/GP é uma das formas mais eficazes de o fazer. É nestes eventos que se alinham as visões a longo prazo, se constrói a confiança e se moldam os fluxos de capital. Se queremos influenciar o que vem a seguir, temos de estar presentes nos locais onde essas decisões são tomadas.

Thijs Povel,
fundador da Dealflow.eu e managing partner do Ventures.eu