Natal e passagem de ano são sinónimos de alegria, partilha, encontros familiares e celebrações. Certo? Errado. Para muitos, estas datas são momentos marcados por solidão e saudade, seja por causa das ausências ou pela pressão de viver a felicidade idealizada pela sociedade. A psicóloga especialista em Psicologia Clínica e da Saúde Ana Vanessa alertou que, apesar da visão romantizada das festividades, estes períodos podem intensificar os "sentimentos de vazio".
Com a aproximação do Natal e da passagem de ano, a ausência de entes queridos pode ganhar um peso emocional ainda maior, o que "pode ser avassalador". Esses períodos, muitas vezes associados à celebração e união, podem, contudo, fazer recordar as fragilidades nas relações e a efemeridade da vida, despertando sentimentos profundos de "tristeza e solidão", explicou a especialista à SIC Notícias.
Quando a solidão começa a afetar profundamente, pode manifestar-se por sintomas emocionais e físicos. Os primeiros sinais incluem ansiedade, depressão, isolamento e, em casos extremos, pensamentos suicidas. Além disso, tal como exemplificou Ana Vanessa, a solidão pode também afetar o corpo, resultando no aumento da pressão arterial, perturbações no sono e uma sensação geral de mal-estar.
Mesmo rodeado de família e amigos é possível sentir-se só. O que fazer?
É possível que uma pessoa se sinta sozinha mesmo rodeada de família e amigos, especialmente quando sente que essas relações são "insatisfatórias ou de baixa qualidade", sublinhou a especialista, sugerindo três estratégias para lidar com esse sentimento: honrar a memória de quem já morreu com rituais comuns desta época, dedicar tempo a atividades que tragam prazer e fazer um esforço para se conectar com os outros.
Reconhecer os próprios sentimentos, priorizar o autocuidado, estabelecer limites e evitar comparações, foram, também, algumas das estratégias recomendadas pela psicóloga que devem ser colocadas em prática ao longo do ano e mais ainda nesta altura, reforçou.
Plano em prática: duas sugestões para celebrar a época com menos solidão
Como uma chamada pode ajudar a sentir-se menos só? - SOS Voz Amiga
Às vezes, falar e ser ouvido através do telemóvel pode ser suficiente para aliviar a solidão que muitos sentem, especialmente durante estas festas de fim de ano. Francisco Paulino, presidente da SOS Voz Amiga, contou, à SIC Notícias, que, durante a época das quadras festivas, o número de chamadas relacionadas com a solidão sobe de 25% para 30%.
Francisco Paulino destacou que o padrão mais comum é o lamento pela ausência das pessoas que já morreram, com muitos recordando o tempo em que a família se reunia à volta da mesma mesa.
Por esta altura, ouvem, sobretudo, mulheres acima dos 60 anos. No entanto, também têm registado chamadas por parte das gerações mais novas que, por motivos profissionais ou dificuldades económicas, passam as festas longe da família, muitas vezes sozinhos, "à frente a um monitor ou à televisão", referiu o responsável da SOS Voz Amiga.
Estudantes estrangeiros celebram "Natal com Famílias Portuguesas" - ESN Portugal
Para muitos estudantes internacionais, o Natal pode ser um momento de solidão, longe das suas famílias e das tradições que tornam esta época especial. Em 2019, surgiu, por isso, o "Natal com Famílias Portuguesas", da Erasmus Student Network (ESN) Portugal, para conectar estudantes estrangeiros às famílias locais, proporcionando-lhes uma experiência acolhedora de forma a não passarem a data sozinhos.
Aline Costa, estudante de doutoramento em Ciências da Educação, na Universidade do Porto, vai participar, este ano, pela terceira vez no projeto. Há cinco anos que deixou Minas Gerais, no Brasil, e, desde estão, nunca mais se reuniu com os familiares. À SIC Notícias, revelou que o que mais a atrai a participar no "Natal com Famílias Portuguesas" é a oportunidade de não estar sozinha durante esta época e também conhecer a cultura e comida típica do país.
"[Este projeto] ajudou-me a estar mais próxima do sentimento familiar, de compartilhar, criar novas conexões e de não me sentir tão [sozinha] durante este período que é bem familiar", acrescentou.
Antes de participar, Aline revelou que se sentia sozinha nesta época, especialmente por estar longe dos familiares. Contudo, logo no primeiro ano que pisou Portugal, começou a participar no "Natal com Famílias Portuguesas". Mesmo assim, a estudante de 28 anos, confessou que, à medida que a quadra natalícia se aproxima, fica com receio de não conseguir participar ou não encontrar uma família.
As inscrições para este Natal permanecem abertas até 15 de dezembro, numa tentativa de garantir que mais estudantes possam viver a data de forma mais acolhedora possível.