
A situação das urgências de obstetrícia e ginecologia na Península de Setúbal atingiu um ponto crítico, segundo denunciaram os deputados do Partido Socialista eleitos pelo círculo de Setúbal, após uma ronda de reuniões com as administrações das Unidades Locais de Saúde de Almada/Seixal, Arco Ribeirinho Sul e Arrábida. A acompanhar a comitiva estiveram ainda autarcas e dirigentes socialistas, num esforço para compreender o verdadeiro impacto da crise que afeta o distrito.
Os parlamentares constataram que as três maternidades de referência — Garcia de Orta (Almada), Nossa Senhora do Rosário (Barreiro) e São Bernardo (Setúbal) — funcionam em regime de rotatividade, ficando apenas uma aberta de cada vez para todo o distrito, devido à dramática escassez de médicos especialistas. A solução, prevista até ao final do ano, implica que cada hospital assegure as urgências apenas durante um terço do mês, no máximo três dias consecutivos. “Não existe precedentes recentes para o encerramento simultâneo das três urgências de obstetrícia na região”, sublinhou a deputada Eurídice Pereira, membro da Comissão Parlamentar de Saúde.
O silêncio do Ministério da Saúde, que optou por não divulgar o calendário das urgências, cria angústia e incerteza entre grávidas e famílias, deixando a população sem informação sobre onde poderá recorrer em caso de necessidade. “Nenhum dos hospitais tem capacidade para responder a 100% quando serve todo o distrito”, reforçou Eurídice Pereira. A deputada exemplificou com o hospital de Setúbal, que, com recursos limitados, apenas consegue dar resposta às zonas de influência direta e aos concelhos do litoral alentejano — quando é obrigado a servir o distrito inteiro, o sistema fica à beira da rutura.
Outro problema grave reside na falta de políticas estruturais para fixação de profissionais, agravada pelo envelhecimento dos médicos da especialidade, muitos dos quais optam por não realizar urgências. As administrações hospitalares continuam a aguardar respostas concretas por parte do Governo e exigem medidas que facilitem a contratação e fixação de novos clínicos.
O futuro das urgências regionais e as recentes declarações do Ministério da Saúde sobre a cobertura no Hospital Garcia de Orta, a partir de setembro, continuam envoltas em dúvidas. Os deputados do PS reclamam esclarecimentos urgentes sobre eventuais cortes nos serviços, considerando que falta informação e ação política para acautelar o futuro da assistência materna no distrito.
A cobertura de médicos de família também esteve em destaque nestas reuniões, com os parlamentares a denunciarem os entraves impostos pelo Governo à constituição de novas Unidades de Saúde Familiar (USF). O caso da Quinta do Conde, onde a administração da ULS garantiu a instalação de uma nova USF nas atuais instalações enquanto aguardam novas infraestruturas, foi apresentado como exemplo das soluções encontradas localmente face à inércia governamental.
Os deputados socialistas enviaram requerimentos ao Ministério da Saúde para exigir esclarecimentos sobre vários destes temas, incluindo a situação da emergência pré-hospitalar (meios de socorro), que consideram continuar sem resposta adequada.