Mais de 70 ex-participantes do Festival Eurovisão da Canção, entre os quais Salvador Sobral, divulgaram esta terça-feira uma carta aberta apelando à União Europeia de Radiodifusão (UER) para excluir a participação da emissora israelita KAN.

Os subscritores, entre os quais também se encontram os portugueses António Calvário, Fernando Tordo, Lena D'Água e Rita Reis, da antiga banda Nonstop, justificam o seu apelo à UER por considerarem a KAN "cúmplice do genocídio contra os palestinianos em Gaza".

"Nós, os ex-participantes da Eurovisão instamos todos os membros da União Europeia de Radiodifusão (UER) a exigir a exclusão da KAN, a emissora pública israelita, do Festival Eurovisão da Canção. A KAN é cúmplice do genocídio de Israel contra os palestinianos em Gaza e do regime de décadas de 'apartheid' e ocupação militar contra todo o povo palestiniano", lê-se na carta.

A carta, publicada conjuntamente pela organização não-governamental Artists For Palestine e pelo movimento Boycott, Divestment, Sanctions (Boicote, Desinvestimento e Sanções) (BDS), é assinada por antigos vencedores do concurso, como o Salvador Sobral (2017) e o irlandês Charlie McGettigan (1994), entre outros antigos representantes, como compositores, músicos, bailarinos, membros de coro.

"Acreditamos no poder unificador da música, e é por isso que nos recusamos a permitir que seja utilizada como ferramenta para encobrir crimes contra a humanidade", lê-se no comunicado, no qual os antigos participantes afirmam que a presença de Israel tornou a edição de 2024 "a mais politizada, caótica e desagradável" da história da competição.
"No ano passado, ficámos horrorizados com o facto de a UER ter permitido que Israel participasse enquanto o genocídio em Gaza continuava, transmitido em direto para todo o mundo. O resultado foi desastroso", lê-se no comunicado.

Segundo os 70 subscritores, a UER não reconheceu as críticas nem refletiu sobre os seus erros, mas, em vez disso, concedeu "total impunidade" à delegação israelita enquanto reprimia outros artistas e delegações.

Acrescentando ainda que, dada a ascensão dos movimentos autoritários e de extrema-direita em todo o mundo, o dever de se manifestar é "urgente", os subscritores da carta lembram que a UER já demonstrou a sua capacidade de medidas drásticas quando expulsou a Rússia da competição em 2022, após invadir a Ucrânia.

"Não aceitamos este duplo critério em relação a Israel. Solidarizamo-nos com os concorrentes deste ano e condenamos a recusa reiterada da EBU em assumir a sua responsabilidade".

A carta é publicada uma semana antes do início da Eurovisão 2025, que terá lugar em Basileia, na Suíça, nos dias 13, 15 e 17 de maio.

Entre os subscritores estão antigos representantes de países como Finlândia, França, Irlanda, Noruega, Eslovénia, Suíça, Reino Unido, Albânia, Bósnia Herzgovina, Turquia e Malta.

Israel participa no concurso desde 1973

Na edição deste ano está previsto Israel ser representado por Yuval Raphael, um sobrevivente do ataque do Hamas ao Festival Nova, em 7 de outubro de 2023.

Em abril passado, a televisão espanhola (RTVE) enviou uma carta ao presidente da UER, Noel Curran, solicitando "a abertura de um debate" sobre a participação de Israel na competição. Este pedido foi posteriormente repetido pelas estações de televisão eslovenas e islandesas.

Israel participa no concurso desde 1973, tendo já vencido por quatro vezes: em 1978, com a canção "A-Ba-Ni-Bi", defendida por Izhar Cohen e os The Alfabetam, e no ano seguinte, quando recebeu o Festival em Jerusalém, com "Hallelujah", por Gali Atari e os Milk & Honey.

Uma canção em hebraico, "Diva", voltou a vencer o festival em 1998 com Dana International. A mais recente vitória israelita no certame foi em Lisboa, em 2018, com "Toy", uma canção interpretada em inglês por Netta Barzilai.

Com Lusa