
Após a designação da AfD como extremista, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, recorreu às redes sociais para acusar a Alemanha de "tirania disfarçada".
"A Alemanha acaba de dar à sua agência de espionagem novos poderes para controlar a oposição. Isto não é democracia, é tirania disfarçada", escreveu Rubio no X, apelando às autoridades alemãs para "inverterem o rumo".
Na resposta, na rede social X e diretamente para Rubio, o ministério da Annalena Baerbock afirmou que "isto é democracia" e que a decisão hoje conhecida é o resultado de uma investigação "completa e independente para proteger a Constituição e o Estado de Direito" alemães.
"Serão os tribunais independentes que terão a palavra final", afirmou o Ministério.
"Aprendemos com a nossa história que o extremismo de direita tem de ser travado", adiantou a mesma fonte.
O Gabinete Federal para a Proteção da Constituição (BfV), a agência de informação do Ministério do Interior alemão, advertiu hoje num comunicado que o objetivo da AfD é "excluir certos grupos da população de uma participação social igualitária".
A classificação como organização extremista deverá permitir pelo menos que a AfD seja colocada sob forte vigilância.
O chefe da diplomacia da Administração de Donald Trump reagiu afirmando que "o que é realmente extremista não é a popular AfD - que ficou em segundo lugar nas últimas eleições - mas sim as políticas de imigração de fronteiras abertas das autoridades, às quais a AfD se opõe".
Esta não é a primeira vez que a administração Trump interfere na política alemã.
Em meados de fevereiro, o vice-presidente JD Vance consternou os alemães e, de uma forma mais geral, os europeus, afirmando num discurso em Munique que a liberdade de expressão estava a "recuar" na Europa, visando em particular a Alemanha.
Na altura, denunciou a ostracização da AfD e apelou ao fim do "cordão sanitário" em torno do partido, tendo falado com a co-líder do partido, Alice Weidel.
Também hoje, o bilionário norte-americano Elon Musk, membro da Administração de Donald Trump, defendeu que uma eventual proibição do partido "centrista" AfD seria "um ataque extremo à democracia".
No período que antecedeu as eleições gerais de fevereiro na Alemanha, Musk já tinha manifestado publicamente o seu apoio ao partido de extrema-direita, que viria a ficar em segundo lugar na votação, atrás dos conservadores da CDU/CSU de Friedrich Merz.
Os co-líderes do partido, Alice Weidel e Tino Chrupalla, reagiram de imediato à decisão, que descreveram como um "golpe na democracia alemã" e consideraram ser "politicamente motivada".
O partido "continuará a defender-se legalmente contra estas difamações, que são perigosas para a democracia", afirmaram num comunicado citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).
O chanceler cessante alemão, Olaf Scholz, pediu hoje que "não se apresse" a eventual proibição da AfD.
"Penso que é algo que não deve ser precipitado", disse Scholz no dia anual da Igreja Evangélica na Alemanha, na cidade de Hannover, na Baixa Saxónia.
Scholz disse que o Tribunal Constitucional já rejeitou todos os pedidos de proibição do partido de extrema-direita até à data, razão pela qual afirmou ser contra "tomar decisões precipitadas".
Por isso, "não vou dizer como devemos proceder", referiu, citado pela agência de notícias espanhola Europa Press.
Scholz referiu-se à cautela e à precaução dos serviços secretos em analisar e finalmente declarar a AfD como uma organização extremista e contrária aos valores democráticos do país europeu.
Sobre a ascensão do partido nas eleições de fevereiro, Scholz manifestou-se preocupado por a AfD ter ficado em segundo, com 20,8% dos votos, à frente do SPD, a que pertence, que caiu de primeiro para terceiro, com 16,4%.
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