São trabalhadores da Visionware, empresa portuguesa de cibersegurança que ali abriu uma delegação para cuidar dos serviços que presta no arquipélago, mas também para acompanhar clientes noutras partes do mundo.

Valter Fortes, consultor de segurança informática, valoriza o contacto com os colegas do Núcleo Operacional Para a Sociedade de Informação (Nosi), empresa pública que nasceu para cuidar da área tecnológica do Estado, cresceu e que ocupa outro piso do edifício.

"Quando estávamos no centro histórico [no escritório anterior], não tínhamos esta troca de experiências com outras empresas", conta à Lusa, antes de voltar a analisar dados nos ecrãs.

"Que venham mais, para termos mais contactos", diz Carla Mendonça, trabalhadora da TEI Telecomunicações, firma com o departamento comercial no parque.

A vantagem é "partilhar oportunidades com outras empresas", descreve Venicy Brito, diretora comercial e de marketing da firma que trata da instalação de telecomunicações e outras tecnologias.

"Não vamos inaugurar paredes, vamos inaugurar um ecossistema a funcionar", refere Carlos Monteiro, presidente do conselho de administração do parque tecnológico público, em entrevista à Lusa, a propósito da cerimónia de corta fita oficial, nos dias 05 e 06 de maio, na Praia e Mindelo, respetivamente.

É como uma casa nova com ambiente propício para o setor e aquele responsável tem números prontos para a apresentação: 23 empresas marcam presença, de sete nacionalidades, umas mais pequenas, outras maiores, envolvendo 400 trabalhadores no quotidiano do Techpark.

Os cinco edifícios contrastam com a paisagem da capital, com bairros pontuados por auto-construção que anseiam por desenvolvimento.

As formas arquitetónicas pouco convencionais refletem as funções dos edifícios -- incubação de empresas inovadoras ('startups'), treino e certificação (requerida por marcas multinacionais como a Microsoft, Cisco, Oracle e outras), produção e desenvolvimento (onde se inclui um centro de processamento de dados ou "data center"), conferências e negócios.

No Mindelo, na ilha de São Vicente, fica outro polo do parque, que pretende expandir as mesmas valências e onde já funciona um "data center" de recuperação, num arquipélago ligado internamente por anéis submarinos de fibra ótica e ao mundo por quatro cabos internacionais de Internet, assinala Carlos Monteiro.

A construção e apetrechamento do parque representou um investimento da ordem de 50 milhões de euros, com apoio do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), pronto a concorrer com outros parques pelo globo, decorrendo contactos para fixar mais empresas internacionais e promover serviços.

"Vemos o Techpark como uma unidade exportadora de serviços. A Visionware  é um grande exemplo", além de outras estrangeiras que trabalham para o mercado do arquipélago, mas também "para o país de origem".

A experiência do Nosi, desde final dos anos 90, permitiu a Cabo Verde criar "uma cultura de inovação" e especialistas, explica, conduzindo ao novo parque, onde alguns desses empreendedores aplicam agora as suas ideias.

"São peças anteriores ao parque tecnológico e agora, com o Techpark, vão ter o melhor ambiente para se organizarem", refere.

"Temos um histórico muito forte, já exportamos muitos serviços de Cabo Verde para países vizinhos", trabalhando com "todos os países de língua oficial portuguesa (PALOP)", exemplificando com a recente escolha do Nosi num concurso para digitalização do sistema judicial, em Angola.

O plano de negócios do Techpark prevê que sejam acolhidas 30 empresas até 2030 e o líder do parque espera que o volume de negócios comece a ser uma força visível na produção de riqueza, seja por via da criação de emprego (até 1.000 diretos e o dobro indiretos) e nível de remunerações, seja pela exportação de serviços.

Tudo para cumprir o desígnio tantas vezes repetido em discursos de diversificar a economia, além do turismo.

O guião dos argumentos para atrair investidores inclui a aplicação de benefícios fiscais associados a uma "zona franca" para a tecnologia e os valores de Cabo Verde (liberdade, democracia, estabilidade política e judicial) em contraste com outros mercados do continente, refere Carlos Monteiro.

Acrescenta-se à lista o avanço do país no contexto africano em vários indicadores digitais e o compromisso do Governo em desenvolver o conceito de "ilhas tecnológicas da África Ocidental".

O presidente do Techpark espera colocar em velocidade cruzeiro as parcerias com universidades, em complemento com a formação especializada no parque, para combater os riscos da falta de mão-de-obra qualificada e fuga de talentos -- o projeto aposta em atrair a diáspora, que junta 1,5 milhões de cabo-verdianos e descendentes, o triplo dos que vivem nas ilhas.

Para junho, está programado um evento em que uma empreendedora emigrante, com um negócio tecnológico consolidado nos EUA, vai visitar o parque e ajudar a cumprir um dos objetivos, projetar o Techpark a nível global.

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