
O cardeal brasileiro Jaime Spengler afirmou hoje, em Fátima, que o mundo vive uma crise das democracias, assim como estão em crise as instituições de mediação internacional, como as Nações Unidas.
"Estamos a viver uma crise das democracias no mundo. Percebemos que as instituições de mediação internacional também estão em crise", afirmou Jaime Spengler, que preside à peregrinação internacional de 12 e 13 de maio ao Santuário de Fátima.
O cardeal falou do contexto latino-americano, para se referir à Organização dos Estados Americanos, e do contexto internacional, como as Nações Unidas ou a Nato.
"Os conflitos multiplicam-se mundo fora", lamentou, destacando que até há 15 dias o mundo tinha 59 conflitos armados, hoje já são 60, somando-se o conflito que opõe Paquistão e Índia.
Perguntando o que está a acontecer com o mundo, o cardeal, que participou no conclave que elegeu o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost Papa Leão XIV, respondeu: "Tudo aquilo talvez que imaginávamos e sonhávamos depois da queda do muro de Berlim, em 89, uma sociedade integrada, integradora, uma convivência pacífica talvez entre os povos, isto não se realizou".
Segundo o cardeal, arcebispo metropolita de Porto Alegre, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano, é neste contexto que os católicos são chamados "a ser sal da terra, luz do mundo, fermento na massa" e "peregrinos de esperança".
"E a esperança para nós tem um nome, a esperança para nós é uma pessoa, Jesus", continuou, para depois abordar a peregrinação ao santuário.
Segundo o arcebispo de Porto Alegre, se as pessoas quiserem e estiverem dispostas a colaborar para deixar o mundo um pouco melhor para aqueles que virão, deve regressar-se ao Evangelho.
"E retornar ao Evangelho diz uma experiência de fé. Experiência de fé é muito mais do que uma prática religiosa. Prática religiosa, eu creio que até ateu e 'à toa' cultivam", comentou, para sublinhar que "experiência de fé é outra coisa".
Jaime Spengler desejou que os fiéis em Fátima, como peregrinos de esperança, possam, "através da liturgia, do diálogo, da celebração, trazer, sim, uma indicação em vista de possíveis sendas para a construção de um mundo melhor".
"Agora, o mundo melhor depende, na verdade, daquilo que nós dizemos, a nossa conversão", adiantou.
O cardeal brasileiro sustentou que "Deus tem uma versão para a humanidade de todos os tempos, o Evangelho".
"E com esta versão, nós somos convidados a construir ou a promover sintonia. Aqui está o desafio da conversão", defendeu, pedindo ajuda da Virgem de Fátima para os peregrinos de esperança.
A propósito, recordou palavras do Papa Francisco, que morreu em 21 de abril, no regresso de uma viagem internacional quando um jornalista perguntou algo sobre Nossa Senhora.
"Eu não me recordo qual foi a pergunta, mas guardei a resposta. Ele dizia assim 'onde Nossa Senhora encontra tempo e lugar, o diabo não chega'. Então, é um pouco com esse espírito que aqui viemos como peregrinos de esperança", acrescentou.