A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) alertou esta terça-feira para o agravamento da situação meteorológica no território do continente, nos próximos dias, devido à depressão "Martinho", com precipitação por vezes forte, vento e agitação marítima.

De acordo com o adjunto operacional nacional da ANEPC, Alexandre Penha, as previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) para "as próximas 48 horas" dão nota de "um agravamento geral do estado do tempo, caracterizado por aumento da precipitação" e "do vento", ao final do dia de quarta-feira e princípio da manhã de quinta-feira.

"Ao mesmo tempo, nesse mesmo período temos a altura da maré cheia nos principais portos e nas zonas onde há o escoamento da precipitação, o que pode causar situações de inundação, especialmente nos espaços urbanos", acrescentou o adjunto operacional nacional, em conferência de imprensa em Carnaxide, no concelho de Oeiras.

"Estamos a preparar a emissão de um SMS à população [entretanto já enviado à hora de publicação deste 'post'] para as áreas que serão mais afetadas", adiantou o responsável da ANEPC, especificando tratar-se "a região de Leiria", a "região da Grande Lisboa, incluindo a península de Setúbal, o litoral alentejano, a zona do baixo Alentejo" e "do Algarve", onde "é mais expectável" sentir-se o efeito da depressão Martinho.

Em comunicado, a ANEPC referiu que o IPMA prevê, para os próximos dias, "precipitação, por vezes forte e persistente, podendo ser de granizo e acompanhada de trovoada, em especial nas regiões do litoral Centro e Sul" e "vento forte, com rajadas até 75 km/h na generalidade do território, podendo atingir os 120 km/h nas terras altas".

Além de "condições favoráveis à ocorrência de fenómenos extremos de vento, sobretudo nas regiões Centro e Sul", as previsões apontam para "agitação marítima forte a sul do Cabo Mondego" e "queda de neve nos pontos mais altos da Serra da Estrela".

De acordo com informação da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), a Proteção Civil salientou que, nas próximas 48 horas, na bacia do Tejo, "nas bacias urbanas poderá ocorrer uma subida de caudais, possibilidade de inundações" e, nas bacias urbanas e ribeiras do Oeste, com base nos valores de precipitação horária obtidos das previsões meteorológicas, "nas bacias urbanas (Cascais, Oeiras, Lisboa, Loures, Odivelas, Setúbal) poderão ser atingidos caudais com um período de retorno entre os cinco e 10 anos".

Na bacia do Sado prevê-se a "possibilidade de subida dos caudais afluentes às barragens" e "os caudais no rio Sado poderão aumentar", na bacia do Guadiana, "as afluências a Monte Novo poderão aumentar" e "ocorrer um aumento dos caudais no rio Guadiana", enquanto na bacia das ribeiras do Algarve (Sotavento) "poderá ocorrer uma subida de caudais".

"Este quadro meteorológico deverá ser mais gravoso a partir da tarde do dia 19 de março e a manhã do dia 20 de março", destacou a ANEPC, sendo previsível "a ocorrência de inundações em zonas urbanas, causadas por acumulação de águas pluviais por obstrução dos sistemas de escoamento ou por galgamento costeiro" e "de cheias, potenciadas pelo transbordo do leito de alguns cursos de água, rios e ribeiras".

A instabilidade de vertentes, "conduzindo a movimentos de massa (deslizamentos, derrocadas e outros) motivados pela infiltração da água, fenómeno que pode ser potenciado pela remoção do coberto vegetal na sequência de incêndios rurais, ou por artificialização do solo" também é referido na nota, assim como o "piso rodoviário escorregadio devido à possível formação de lençóis de água" e "possíveis acidentes na orla costeira, devido à forte agitação marítima".

A Proteção Civil alertou ainda para a possibilidade de "arrastamento para as vias rodoviárias de objetos soltos ou de desprendimento de estruturas móveis ou deficientemente fixadas, por efeito de episódios de vento forte", ameaçando causar acidentes com veículos em circulação ou pessoas na via pública, bem como "desconforto térmico na população devido ao aumento da intensidade do vento".

O impacto dos efeitos do mau tempo pode, de acordo com a ANEPC, ser "minimizado, sobretudo através da adoção de comportamentos adequados", em particular nas zonas historicamente mais vulneráveis, nomeadamente através da "desobstrução dos sistemas de escoamento das águas pluviais".

A "fixação de estruturas soltas, nomeadamente, andaimes, 'placards' e outras estruturas suspensas" e "especial cuidado na circulação e permanência junto de áreas arborizadas" ou "junto da orla costeira e zonas ribeirinhas" fazem também parte das medidas preventivas enunciadas pela ANEPC.

Perante este quadro, Alexandre Penha salientou que a Proteção Civil solicita à população "uma maior cautela na movimentação" em espaço público, que coincide com "o período de maior precipitação", evitando deslocações desnecessárias e, em casos inadiáveis, adotando "uma maior atenção à condução", além da limpeza de "estruturas de drenagem" junto às habitações e propriedades de maior risco de inundações.

Em relação ao vale de Santarém, o responsável operacional avançou que estão interditadas "vias que já estão alagadas" e vai continuar a fazer-se "a monitorização dos caudais do rio Tejo e dos principais afluentes, em conjunto com a APA".