A equipa de cientistas, liderada pelos investigadores Sandra Morais Cardoso e Nuno Empadinhas, demonstrou que "o microbioma intestinal (conjunto de microrganismos que habitam o intestino), tipicamente alterado em pessoas com a doença de Parkinson, tem propriedades suficientes para desencadear alterações intestinais e sistémicas que levam ao surgimento de marcas neuropatológicas características desta doença".

Segundo a UC, estudos anteriores já tinham demonstrado mecanismos pelos quais alguns casos da doença de Parkinson podem ter origem no intestino por disfunção crónica do seu microbioma.

No novo estudo, os investigadores não só confirmaram que a doença de Parkinson pode ser desencadeada no intestino, como também identificaram "a presença de marcadores inflamatórios e de agregados da proteína alfa-sinucleína -- o marcador cerebral clássico da doença -- no íleo (região do intestino delgado)".

Estes podem servir como "biomarcadores da fase que indica etapas iniciais da doença no intestino, antes desta evoluir para o cérebro" (fase prodromal), explicou Sandra Morais Cardoso.

Os cientistas acreditam que, intervindo nas alterações no intestino, será possível impedir que os efeitos avancem até ao cérebro, retardando a morte dos neurónios.

"Esta antecipação não apenas facilita a realização de ensaios clínicos para testar intervenções capazes de impedir a progressão da doença, mas também oferece a esperança de atrasar, ou até mesmo prevenir, a manifestação dos sintomas neurológicos, melhorando, assim, a qualidade de vida de doentes e aliviando a carga social e económica associadas a esta condição de saúde", explicaram os investigadores.

A equipa de cientistas também estudou amostras do íleo terminal retiradas por colonoscopia de doentes onde identificaram os mesmos biomarcadores e a análise dos dados foi promissora, porque foi possível identificar marcas da manifestação da doença de Parkinson no intestino.

Embora ainda não conheçam detalhadamente "a combinação de micróbios e metabolitos que está na origem da disfunção do microbioma intestinal", Sandra Morais Cardoso e Nuno Empadinhas mostraram-se confiantes de que "a deteção de marcadores inflamatórios e agregados de alfa-sinucleína no íleo terminal, através de colonoscopia com biópsia entre os 50 e 55 anos, permitirá identificar uma população de indivíduos com risco acrescido de desenvolver a doença".

"Esta abordagem permitir-nos-ia intervir precocemente e impedir a progressão até ao cérebro desta doença neurodegenerativa, atualmente incurável", sublinharam.

Dados da Organização Mundial da Saúde referem que, este ano, mais de 10 milhões de pessoas foram diagnosticadas com a doença de Parkinson, quando em 2016 tinham sido de 6,1 milhões. Em Portugal, cerca de 20 mil pessoas vivem atualmente com a doença.

Segundo Sandra Morais Cardoso, "o número de novos casos da doença tem aumentado de forma alarmante, sendo já considerada uma pandemia", e estima-se que, até 2040, "o número de novos casos anuais possa ultrapassar os 17 milhões".

"Esta descoberta de novos biomarcadores pode desempenhar um papel vital na implementação de estratégias de prevenção, beneficiando doentes e a sociedade em geral", frisaram.

Partindo dos resultados deste estudo, os cientistas já estão a explorar novas linhas de investigação "que visam neutralizar o processo inflamatório no intestino, antes da propagação da doença de Parkinson para o cérebro".

Os investigadores avançaram que os resultados preliminares "são promissores, indicando que estratégias como esta, de neutralização numa fase precoce, podem ter impacto significativo na modulação da inflamação intestinal, na preservação da integridade da barreira intestinal e bloqueio da propagação da doença para o cérebro".

AMF // SSS

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