A 30ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, COP 30, que decorrerá no Brasil em novembro, "vai ser a COP mais importante desde Paris", disse hoje o CEO da Fundação para a Sustentabilidade da Amazónia, Virgílio Viana.

"Não só por ser muito simbólico dez anos depois, mas porque é uma COP que será inspirada em primeiro lugar pela Amazónia, devido às soluções baseadas na natureza", indicou o engenheiro florestal e ex-secretário de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas.

"A mensagem desta COP é que será focada na ação", afirmou. "A Amazónia está perto do ponto de inflexão. É uma emergência", declarou. "Está na altura de trazer todos os que estão preocupados e ver como podemos implementar ações no terreno".

Virgílio Viana falava numa sessão sobre a COP 30 durante a Conferência Global do Milken Institute, que decorre em Los Angeles.

Um dos pontos centrais foi o do financiamento do combate às alterações climáticas. Viana disse que é preciso captar um montante significativo porque "há muita floresta para restaurar e proteger".

Maria Netto Schneider, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade, descreveu a COP 30 que vai decorrer em Belém, no Pará, como a conferência que vai determinar os próximos dez anos de implementação.

"Não é uma COP para negociação, é uma COP para perceber como será a implementação, não só das ambições das metas climáticas mas também do financiamento", indicou.

Schneider salientou que muitas das conferências anteriores se focaram no abandono dos combustíveis fósseis, mas nesta será importante realçar o papel da natureza, que é eficaz na remoção de gases com efeito de estufa e menos onerosa.

"É uma grande oportunidade para nós termos na COP na Amazónia para salientar esta oportunidade, em particular dado o papel que o Brasil e a América Latina podem ter", considerou a responsável.

O principal negociador financeiro no Acordo de Paris, Rémy Rioux, também salientou que a conferência em Belém será muito centrada na ação e em soluções, o que é impossível de destrinçar da questão do financiamento. "Creio que, pela primeira vez, teremos em Belém o quadro completo", afirmou.

"Precisamos de financiamento público e também de fazer um melhor trabalho a mobilizar financiamento privado para o clima".

Essa vontade existe, indicou Tariye Gbadegesin, CEO da Climate Investment Funds: "Há um apetite por investimentos em energia limpa". Mas é preciso ativá-la melhor neste espaço, como apontou Régine Clément, CEO da comunidade de investimento CREO.

"Há oportunidades para investir, mas precisamos de investidores ativos e de um fluxo de contratos".

Para Maria Netto Schneider, um dos problemas é a desconexão entre investimentos e os custos das alterações climáticas.

"As alterações climáticas não são uma coisa separada da economia", afirmou, referindo que o custo da inação e dos desastres naturais que estão a tornar-se cada vez mais devastadores é grande.

"O grande desafio é perceber que a forma como avaliamos o risco e promovemos investimentos ainda não está integrada nesta incerteza do futuro", disse. "É um novo problema económico", continuou, lembrando que as seguradoras já não emitem apólices para casas na Florida devido ao elevado risco de desastres naturais.

Virgílio Viana também apontou que os avanços estão a ser feitos de forma muito demorada. "Temos de nos tornar muito mais eficientes a lidar com uma emergência", considerou. "O barco está a afundar e estamos a fazer licitações para os botes salva-vidas".

O especialista alertou que é preciso ter "uma abordagem de sistema, não apenas investimentos com impacto".

A COP 30 vai decorrer entre 10 e 21 de novembro na cidade de Belém, capital do estado do Pará, localizada nas margens do Rio Amazonas.