
Numa longa conversa com a Teen Vogue, Vivian Jenna Wilson, a “filha renegada” de Elon Musk, estabelece clara oposição às opções políticas do progenitor, e diz que a afirmação de que o magnata teria virado à direita por causa de ela ser trans "é uma narrativa conveniente", mas que não corresponde à realidade. Atualmente uma figura conhecida das redes sociais, a jovem de 20 anos ataca ainda a administração norte-americana pela perseguição que faz aos jovens trans, aos imigrantes e às pessoas de cor.
"Se tu és trans e conservador, tu estás a votar contra os teus próprios interesses", sublinha. "Eles estão a tentar tirar os cuidados de saúde e todos os direitos às pessoas trans, a tentar minimizar a nossa visibilidade". E admite que as suas raízes familiares influenciaram o seu ponto de vista político.
“Ver aquele tipo de riqueza, riqueza extravagante, em primeira mão, enquanto vivia em Los Angeles, e observar o enorme problema de falta de casas, a desigualdade de rendimentos... tu começas a pensar, como é que isto é justo? Chegas inevitavelmente à conclusão que não é”. “Não pode existir um mundo em que algumas pessoas devam ser donas de vários aviões privados, ilhas privadas, não sei quê privado, enquanto outras pessoas estão a viver na rua”, conclui.
Quando questionada sobre se o pai foi "sempre assim", Vivian evitou responder. “Não foi por causa de mim. É uma narrativa tão conveniente, que a razão para ele ter virado à direita tenha sido porque eu sou um raio de um travesti, e simplesmente não foi isso que aconteceu”, garante. "Não é isso que faz as pessoas ficarem assim. Ele ir mais para a direita, e eu vou usar a palavra 'mais' - garantam que põem a palavra 'mais' lá - não é por causa de mim. Isso é uma loucura", defende. E acrescenta que não fala com o pai desde 2020 - "é quase meia década, nesta altura. Graças a Deus".
“Foi, definitivamente, uma saudação nazi”
Sobre um dos gestos mais polémicos de Elon Musk, a saudação nazi num comício do Partido Republicano, diz que foi “uma loucura”. “Querido, vamos chamar os bois pelos nomes, e vamos chamar uma saudação nazi aquilo que ela é. Aquela porcaria foi, definitivamente, uma saudação nazi. E o público que lá estava também deve ser responsabilizado. Aquela multidão deve ser denunciada”, acusa.
“Mas, além disso, não quero saber. Não quero mesmo. É irritante quando me associam a ele. (…) quando me atacou na entrevista ao Jordan Peterson, esse foi o momento mais catártico da minha vida até agora. Eu tinha esta energia toda reprimida, queria falar há tanto tempo depois de ter sido difamada num livro, depois de ter sido doxxed [quando viu expostas informações pessoais suas na internet]", explica.
Na entrevista ao escritor, que é também um dos ícones do movimento alt-right, Elon Musk afirmou que a filha, a quem tratou como rapaz, e pelo nome que já não usa, estava morta depois de ter sido infetada “pelo vírus da mente woke”. Vivian afirmou, na altura, que Musk não sabia como ela era em criança “porque simplesmente não estava lá”. E, nas poucas vezes em que estava presente, disse a jovem, “assediava-a implacavelmente" por causa da sua “feminilidade e estranheza”.
Elon Musk “é uma criança grande patética”
“Ele é uma criança grande patética. Porque é que eu teria medo dele? Ohh, ele tem tanto poder. Não, não, não. Eu não quero saber. Porque é que eu devia ter medo deste homem? Porque é rico? Oh, não, estou a tremer. Eu não quero saber quanto dinheiro alguém tem. Não quero. Não quero mesmo. Ele é dono do Twitter. Okay. Parabéns”, conclui.
A “rainha do Threads” que soube pelo Reddit do nascimento dos dois meios-irmãos
Vivian Jenna Wilson mantém uma participação regular nas redes sociais que concorrem com a plataforma que o pai comprou. “Eu sou a Rainha do Threads [rede social lançada pela Meta para disputar público com o antigo Twitter, detido pelo pai]. E tenho Bluesky, mas não tenho o mesmo direito a ser 'Rainha do Bluesky'. Acho que a minha relação com as redes sociais é saudável. Tenho uma conta de TikTok, mas não vejo conteúdos do TikTok. Não o faço há anos. As únicas redes sociais que uso ativamente no meu dia a dia são o Bluesky e o Threads. Ou o YouTube”.
E foi por uma rede social que soube da existência dos irmãos mais novos. “Soube que a Grimes tinha tido um segundo filho porque uma drag queen postou no Reddit (…) Tatianna, da segunda temporada de RuPaul's Drag Race, tweetou: ‘Oh não, a Grimes a aparecer com outro axolotl’, e essa publicação chegou à primeira página do subreddit de RuPaul's Drag Race, e foi assim que descobri”.
Foi dessa mesma forma que também descobriu sobre o filho que Elon Musk terá tido com Ashley St. Clair, a quem o milionário cortou apoio financeiro na tarde desta sexta-feira (21). "Se ganhasse um níquel de cada vez que descobrisse que tinha meios-irmãos pelo Reddit, já tinha dois níqueis", ri.
“A maioria das pessoas de direita tem o carisma de um roupão de banho encharcado”
Sem esconder a opinião, a certa altura o entrevistador da revista norte-americana provoca: “Falando de alguns membros da tua família, sinto que as pessoas de direita na verdade são bastante más a publicar [nas redes sociais]”. Vivian concorda. “Não são engraçados. Tens de ser engraçado. E a maioria deles tem o carisma de um roupão de banho encharcado. Quer dizer, não é culpa minha que a maioria deles não saiba como ser engraçado. Não é assim tão difícil”, afirma.
Reconhece que as redes sociais tiveram impacto na política, mas não sabe “se foi para melhor”. “Enquanto as pessoas queer e as comunidades marginalizadas têm tido níveis crescentes de visibilidade, também temos coisas como a bolha alt-right ou comunidades como o 4chan, onde a radicalização se tornou mais fácil que nunca, e que é cada vez mais preocupante”. No entanto, considera que as redes sociais podem ser “incrivelmente informativas”. "Tem de se verificar toda a informação, obviamente, mas pode ser mesmo uma boa maneira de aumentar a sensibilização sobre alguns temas. Eu sinto que vimos isso com a Palestina e Gaza no último ano, onde muita gente soube do tema inicialmente através das redes sociais", acrescenta.
Considera que politicamente os Estados Unidos não estão a ir na direção correta. “É assustador. Cada vez que abro o telemóvel para ler as notícias, eu fico tipo 10 minutos a olhar para a parede. É horripilante o que estão a fazer, não só à comunidade trans, mas também aos migrantes, às comunidades racializadas, a todas as comunidades marginalizadas que estão constantemente a ser alvo da nova administração e a verem revogada a sua proteção. É caricaturalmente maligno”, atira.
“Obrigada” a falar de questões trans contra a vilanização daqueles que o são
Embora clarifique que não se vê como uma ativista, diz sentir-se “obrigada a falar de questões trans". “Como alguém que fez a transição enquanto menor, sinto que há uma vilanização tão grande de quem passa por isso, que gostaria de aumentar a consciencialização sobre o facto de que os cuidados de saúde para os menores trans, especialmente os bloqueadores da puberdade, são muito muito importantes”, sublinha. “Então talvez devêssemos parar de demonizar estas crianças, ou as pessoas em volta delas, que estão unicamente a tentar ajudá-las a sentirem-se bem na sua própria pele”, alerta.
“Temos visto ataques tão cruéis contra menores trans que é realmente importante que protejamos a juventude trans e que façamos tudo o que podemos, especialmente neste ambiente político cada vez mais hostil”, apela.
E deixa, ela própria, uma frase de apoio a outras mulheres trans, que cita da youtuber ContraPoints: “Continua forte, irmã. Não deixes os cretinos deitar-te abaixo”. “Não deixes que as perceções dos outros sobre ti afetem a tua maneira de ser. Não tenhas vergonha de ser trans no mundo que tenta constantemente fazer-nos ter vergonha de quem somos ou do que somos”, detalha.
“O facto de eu ser trans não é um asterisco na minha maneira de ser. Eu valorizo muito a comunidade trans. Eu valorizo a comunidade queer. Eu valorizo a história trans, e a cultura e a história queer e tudo isso num nível tão alto que nunca vou querer distanciar-me de nada disso”, assegura.