"Vai piorar nos próximos meses, porque vão atingir-se as horas extraordinárias, além dos períodos normais de férias", adiantou à agência Lusa a presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam), Joana Bordalo e Sá.

Para o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Nuno Rodrigues, os constrangimentos nas urgências, que já se verificaram no último fim de semana, devem-se, sobretudo, a "equipas muito desfalcadas" nos serviços de pediatria e de obstetrícia/ginecologia.

O portal do Serviço Nacional de Saúde (SNS) indicava às 15:45 de hoje que, no próximo sábado, estarão encerrados seis serviços de urgência, cinco dos quais de obstetrícia/ginecologia e de pediatria em Lisboa e Vale do Tejo.

No dia seguinte, domingo, o número de urgências encerradas diminui para cinco, com quatro na região de Lisboa e Vale do Tejo.

As duas estruturas sindicais coincidem na avaliação de que a falta de médicos de família em Lisboa e Vale do Tejo é uma das razões para os constrangimentos que se verificam nas urgências hospitalares dessa região.

"Se as pessoas conseguissem resolver parte dos seus problemas nos cuidados de saúde primários, se houvesse médicos de família suficientes, as coisas nos hospitais não estavam tão mal", salientou Joana Bordalo e Sá.

Para Nuno Rodrigues, é "inegável que há uma relação direta" entre o facto de cerca de um milhão de utentes não ter médico de família atribuído na região de Lisboa e Vale do Tejo e, ao mesmo tempo, as urgências terem sido as mais sobrecarregadas no início deste ano.

"Enquanto não se resolver o problema da medicina geral e familiar em Lisboa e Vale do Tejo, as urgências vão ser sempre muito complicadas", realçou o dirigente do SIM.

Relativamente às horas extraordinárias - 150 anuais para o regime geral e 250 para os médicos que aderiram à dedicação plena -, a presidente da Fnam adiantou que o limite começa a ser atingido no final do primeiro trimestre e que, habitualmente, estão esgotadas no início do verão.

"Depois dos limites serem atingidos, as coisas podem agravar-se", alertou Joana Bordalo e Sá, para quem os encerramentos de urgências que se têm verificado são reflexo da "banalização da falta de médicos" no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Para a dirigente sindical, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, "deixa o SNS pior do que encontrou", alegando que, em anos anteriores, os encerramentos de urgências começavam a sentir-se no verão ou nas semanas com feriados.

Nuno Rodrigues adiantou que os constrangimentos que se verificam devem-se também a uma época de transmissão dos vírus respiratórios mais alargada, o que levou a que os médicos "fossem muito sobrecarregados neste primeiro trimestre em termos de urgências".

O secretário-geral do SIM referiu ainda que, a meio de março, já existem médicos que atingiram o limite anual de 150 horas extraordinárias, o que corresponde a "cerca de um mês de trabalho".

"Em pouco mais de dois meses e meio de trabalho, os médicos já trabalharam três meses e meio", lamentou Nuno Rodrigues, ao salientar que se trata de um "desgaste acumulado em muito pouco tempo".

"Se já estamos com médicos com sobrecarga e ainda não terminou o primeiro trimestre, certamente que estarão bastante exaustos e têm ainda o resto do ano para cobrir", afirmou o dirigente sindical.

Nuno Rodrigues referiu também que os acordos salariais e para a melhoria das condições de trabalho dos médicos ainda não estão em vigor, dois instrumentos que considerou que vão permitir uma maior atratividade de clínicos para o SNS.

"Os médicos não podem fazer mais do que estão a fazer: não é uma dedicação plena, é uma dedicação extrema ao SNS", assegurou o secretário-geral do SIM.

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