O Presidente russo, Vladimir Putin, esteve esta sexta-feira reunido durante mais de quatro horas com Steve Witkoff, enviado especial do homólogo norte-americano, Donald Trump, para discutir um possível cessar-fogo na Ucrânia, segundo o Kremlin.

A reunião, que decorreu à porta fechada na Biblioteca Presidencial em São Petersburgo, foi a terceira entre Witkoff e Putin nos últimos dois meses e teve uma duração aproximada de 4h30m, de acordo com as agências russas Ria Novosti e TASS.

Segundo um breve comunicado do Kremlin, o encontro centrou-se em "aspetos do acordo ucraniano".

Participaram também na reunião o conselheiro do Kremlin para assuntos internacionais, Yuri Ushakov, e o enviado presidencial para a cooperação económica internacional, Kiril Dmitriev.

Antes do encontro com Putin, Witkoff reuniu-se separadamente com Ushakov e Dmitriev. No final, apenas Dmitriev assinalou que o encontro foi "produtivo".

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que não se esperavam grandes avanços com a reunião desta sexta-feira, mas reconheceu tratar-se de uma oportunidade importante para partilhar a visão russa sobre o conflito.

“Não há razão para esperar qualquer progresso. Há um processo de normalização das relações e uma tentativa de abrir caminho a um processo de paz na Ucrânia”, indicou.

Apesar da recente trégua entre Kiev e Moscovo, que suspendeu temporariamente os ataques contra infraestruturas energéticas, os combates continuam e a Rússia ameaça abandonar o entendimento a partir de 16 de abril, alegando violações constantes por parte das forças ucranianas, que, por sua vez, denunciam ataques diários a infraestruturas civis.

Caso não haja um cessar-fogo até ao final do mês, Trump poderá avançar com novas sanções contra a Rússia, por via executiva ou com apoio do Congresso, segundo a imprensa norte-americana.

Em declarações através da sua porta-voz, o Presidente Trump expressou esta sexta-feira a sua frustração com a falta de progresso entre as partes:“O Presidente foi muito claro ao expressar a contínua frustração com ambos os lados deste conflito e quer ver o fim da guerra.”

Apesar disso, a porta-voz indicou que os Estados Unidos continuam a ter influência para negociar um acordo de paz e que Trump está determinado a avançar com essa medida.

Enviado de Trump sugere divisão da Ucrânia para alcançar paz

Entretanto, no mesmo dia da reunião em São Petersburgo, Keith Kellogg, enviado especial do Presidente norte-americano para a Ucrânia, lançou uma proposta controversa que envolve a divisão do país em três zonas distintas, à semelhança do que aconteceu com a Alemanha após a Segunda Guerra Mundial.

Em entrevista ao jornal britânico The Times, Kellogg sugeriu a criação de uma “força de segurança” liderada pelo Reino Unido e pela França para operar na zona oeste da Ucrânia, enquanto as forças ucranianas seriam concentradas a leste do rio Dnipro, que funcionaria como linha de demarcação entre os territórios. As regiões atualmente sob ocupação russa permaneceriam sob controlo de Moscovo.

“Quase poderia fazer-se algo parecido com o que aconteceu a Berlim depois da Segunda Guerra Mundial, quando havia uma zona russa, uma zona francesa, uma zona britânica e uma zona americana”, explicou Kellogg.

Embora o Kremlin tenha rejeitado anteriormente a ideia de tropas europeias a monitorizar o cessar-fogo, Kellogg defendeu que uma força ocidental limitada ao lado ocidental do Dnipro “não seria provocatória”.

Além disso, propôs a criação de uma zona desmilitarizada de 29 quilómetros ao longo da linha da frente, com ambas as forças a recuar 15 quilómetros para estabelecer uma zona neutra facilmente monitorizável.

O general norte-americano reconheceu que a proposta poderá ser recusada pela Rússia e admitiu a possibilidade de violações ao cessar-fogo, embora sublinhasse que seriam facilmente detetadas. Acrescentou ainda que os Estados Unidos não enviariam tropas terrestres para essa força de segurança e alertou Londres e Paris a não dependerem do apoio norte-americano nas garantias de segurança oferecidas à Ucrânia.

“A força de segurança da coligação seria capaz de enviar uma mensagem eficaz ao Presidente Putin”, afirmou Kellogg.

Esta foi a primeira vez que uma autoridade norte-americana propôs oficialmente o Dnipro como linha de demarcação num eventual pós-guerra. No entanto, o plano implicaria a aceitação, ainda que implícita, da ocupação russa de partes do território ucraniano — algo já rejeitado veementemente pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que insiste que a integridade territorial do país não é negociável.

Donald Trump, apesar da sua aproximação ao Kremlin desde que regressou à Casa Branca em janeiro, tem manifestado crescente insatisfação com a continuação dos bombardeamentos russos e a ausência de um verdadeiro compromisso com uma trégua.

"A Rússia precisa de se mexer. Muitas pessoas estão a morrer, milhares por semana, nesta guerra terrível e sem sentido. Uma guerra que nunca deveria ter acontecido, que nunca teria acontecido se eu fosse Presidente", escreveu esta sexta-feira na plataforma Truth Social.

Com Lusa