
O enviado dos Estados Unidos, Steve Witkoff, deverá deslocar-se novamente a Moscovo esta semana, anunciou esta terça-feira o Kremlin, que alerta para a pressa nas negociações para resolver o conflito na Ucrânia, embora se arrastem há mais de dois meses.
Yuri Ushakov, conselheiro para os negócios estrangeiros do Presidente russo, Vladimir Putin, disse à agência de notícias russa TASS que Steve Witkoff, negociador do líder da Casa Branca, Donald Trump, planeia uma visita à capital russa esta semana.
Rússia diz que “é melhor não estabelecer prazo apertado”
A confirmar-se, será a quarta visita do negociador norte-americano desde o relançamento das relações entre Washington e Moscovo, iniciado em meados de fevereiro por Donald Trump.
No entanto, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, avisou hoje que a solução do conflito é "uma questão tão complexa" que "provavelmente é melhor não estabelecer um prazo apertado".
Zelensky desafia Putin a aceitar cessar-fogo
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, desafiou o homólogo russo a aceitar um cessar-fogo de 30 dias nos ataques aéreos com 'drones' e mísseis contra infraestruturas civis.
A proposta foi apresentada no domingo à noite, poucas horas antes de expirar uma trégua no período da Páscoa, declarada unilateralmente por Putin, mas marcada por acusações de centenas de violações de parte a parte.
Dmitri Peskov declarou hoje que não há planos concretos sobre negociações com Kiev, mas indicou que Putin está disposto a dialogar.
O Presidente russo disse na segunda-feira que vai analisar a proposta de moratória, enquanto acusava as forças ucranianas de ocuparem frequentemente posições em instalações civis, o que as torna em alvos militares.
Kiev volta a reunir com países ocidentais
Para quarta-feira, em Londres, está prevista a segunda reunião de representantes de Kiev com parceiros ocidentais, visando garantir um cessar-fogo com a Rússia, segundo indicou uma alta autoridade ucraniana à AFP, apesar de a data ainda não ter sido anunciada oficialmente.
Na semana passada, ucranianos, norte-americanos, franceses e britânicos reuniram-se em Paris, pela primeira vez neste formato, numa altura em que as negociações para um cessar-fogo iniciadas por Washington estão estagnadas e os europeus querem impor a sua voz.
As conversações decorrem numa altura em que a Rússia retomou os ataques aéreos após o breve cessar-fogo de 30 horas na Páscoa.
A trégua pascal e a proposta de Zelensky seguem-se a declarações do Presidente norte-americano, Donald Trump, na sexta-feira, sugerindo que, se não houver progressos nas negociações indiretas com Moscovo e Kiev numa "questão de dias", Washington poderá abandonar o processo de paz na Ucrânia.
EUA quer acordo “dentro de uma semana”
Já no domingo, o líder da Casa Branca disse esperar um acordo "dentro de uma semana" e sugeriu às duas partes que "poderão então fazer bons negócios com os Estados Unidos, que estão a crescer, e ganhar uma fortuna".
A chefe da diplomacia da União Europeia (UE) acusou hoje o Presidente russo de usar a trégua no conflito na Ucrânia na Páscoa para ganhar tempo e evitar que o líder norte-americano "perdesse a paciência".
Em declarações à agência noticiosa France-Presse (AFP), Kaja Kallas afirmou que as sucessivas violações à trégua anunciada unilateralmente pelo líder do Kremlin mostram que "a Rússia está a brincar, a tentar ganhar tempo e não quer realmente a paz".
Trégua de Páscoa foi “jogada de marketing”?
Segundo a alta-representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, as autoridades de Kiev e os seus aliados europeus esperavam que Washington adotasse uma linha mais dura em relação a Moscovo.
"Eles têm as ferramentas para realmente pressionar a Rússia. Porque não as usam para acabar com esta guerra?", questionou.
Na mesma linha, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Noel Barrot, considerou hoje que a trégua de Páscoa declarada por Moscovo "foi uma jogada de marketing, uma operação de sedução destinada a evitar que o Presidente Trump ficasse impaciente e irritado".
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).