
O Parlamento espanhol aprovou, esta quinta-feira, uma lei que visa combater o desperdício alimentar no país. Segundo o jornal “El País”, a nova legislação inclui medidas como a obrigatoriedade de bares e restaurantes oferecerem recipientes para levar as sobras ou a exigência de que supermercados doem os excedentes. Entre as várias medidas, há uma que tem causado polémica e contestação: o levantamento da proibição de caça de lobos.
Segundo a proposta apresentada pelo Partido Popular (PP) - e votada a favor pelos partidos Vox, Juntos pela Catalunha e Partido Nacionalista Basco - os lobos matam cerca de 14 mil ovelhas e cabeças de gado por ano, gerando 14 milhões de quilos de restos de carne em desperdícios, de acordo com a informação citada pelo “The Guardian”.
Durante o debate, a deputada do PP Milagros Marcos argumentou que a lei aprovada iria “acabar com o pesadelo de milhares de criadores de gado e famílias humildes que querem continuar a viver nas suas aldeias sem medo”.
Vários analistas, contudo, consideram não existir uma base científica que comprove os números e os danos apresentados. “Hoje o Parlamento presidiu ao que é um dia negro para a conservação da natureza em Espanha, utilizando um método desleal e sem qualquer justificação científica para deixar os lobos desprotegidos”, afirmou Juan Carlos del Olmo, secretário-geral da WWF em Espanha (Fundo Mundial para a Natureza, em português), depois da votação.
Para o WWF, esta decisão foi “baseada no oportunismo político” e poderá abrir portas ao abate indiscriminado desta espécie. O lobo-ibérico é uma espécie protegida em toda a Espanha desde setembro de 2021. Em dezembro do ano passado, a União Europeia reduziu o estatuto de proteção dos lobos de “estritamente protegido” para “protegido”.
Multas podem chegar aos €500 mil
Em 2023, foram desperdiçados 1,214 milhões de toneladas de alimentos em Espanha, de acordo com os últimos dados do Ministério da Agricultura, citados pelo “El País”. A Lei de Prevenção de Perdas e Desperdícios Alimentares aprovada esta quinta-feira visa reduzir estes números, através de um conjunto de medidas.
- Todas as empresas da cadeia alimentar (desde a produção à distribuição), bem como hotéis e restaurantes são obrigadas a elaborar planos para evitar perdas e desperdícios.
- É exigido que as empresas da área da restauração ofereçam aos seus clientes a possibilidade de levar os alimentos que não forem consumidos em embalagens reutilizáveis ou recicláveis de forma gratuita.
- Pede-se que as lojas e os supermercados disponibilizem uma secção com alimentos mais “feios”, ou “imperfeitos” para venda, desde que cumpram as normas sanitárias básicas. As várias companhias devem, também, promover a compra de “produtos sazonais”, “biológicos” e “ambientalmente sustentáveis”.
- As cadeias de supermercados devem fomentar a venda de produtos em fim de validade,
- A lei prevê a aplicação de coimas que podem ir desde os 2 mil aos 500 mil euros para infrações consideradas mais graves.