
Existe um mundo antes e depois da criação da inteligência artificial, tecnologia que afecta directamente, muitas vezes até de forma imperceptível, a vida de qualquer pessoa.
Petra Freitas, psicóloga clínica, com especialização em sexologia e terapia de casal, explicou, ao DIÁRIO-Digital, como esta ferramenta revolucionária pode influenciar a intimidade, seja de forma positiva, ao ajudar quando os temas são educação sexual, denúncia de casos de pornografia infantil e partilha de conteúdo de sexo explícito sem consentimento, ou pela negativa, quando se perde a percepção do real, comparando insistentemente o outro a um avatar fruto da imaginação e criado pela IA, limitando o contacto físico e, muitas vezes, culminando numa solidão conectada.
Chamamos de solidão conectada, porque estou desconectada com o mundo real, mas no mundo virtual estou ‘rodeado’ por muitas pessoas, seja pelas notificações, número de seguidores ou interações (gostos e comentários), mas que depois se não existe uma transmissão para o nosso quotidiano, com as pessoas mais próximas, como amigos e familiares, pode originar um desconforto ou uma desconstrução da vida social. Isto acontece porque depois não existe capacidade para se relacionar com o outro, da mesma forma que lida no mundo virtual, porque acaba por não se sentir o mesmo indivíduo e não consegue se apresentar aos outros nos mesmos moldes. Petra Freitas, psicóloga clínica
A psicologia alerta para a importância das relações funcionais em prol de uma saúde mental e emocional positiva, que, de acordo com a especialista, contempla “a comunicação, o toque, o observar o olhar do outro, da comunicação não verbal, tudo situações que a inteligência artificial não consegue promover”.
De acordo com a profissional de saúde, é importante ter noção daquilo que necessitamos e principalmente dos limites, que só são adquiridos com o contacto com o outro, pois “a IA não consegue fazer essa distinção, apenas nos dá aquilo que pedimos”.
Petra Freitas não tem dúvidas de que esta nova tecnologia “não só pode, como maioritariamente, irá afectar os nossos desejos sexuais”, mas que deve ser utilizada segundo uma ordem específica.
A psicóloga deu ainda a conhecer o lado positivo desta nova tecnologia, que pode auxiliar em questões sobre sexualidade e até filtrar possíveis casos de pornografia infantil e partilha de conteúdo sem consentimento.
Nas redes sociais, como Instagram e Facebook, a IA está a ser utilizada para distinguir algumas mensagens que sejam abusivas ou de conteúdo sexualmente explícito não consentido, onde faz quase uma denúncia automática ou questiona a pessoa se está a acontecer algo deste género para remeter à denúncia.
Fique a saber mais na entrevista disponível no canal do DIÁRIO, presente no YouTube.