
Os partidos de esquerda destacaram hoje a forte mobilização no desfile do 25 de Abril como "uma lição" ao Governo, com o PS focado numa "mudança segura" de executivo nas eleições legislativas de maio.
PS, BE, PCP, Livre e PAN deixaram críticas ao executivo PSD/CDS durante o tradicional desfile popular na Avenida da Liberdade, em Lisboa, com a IL a ser o único partido a desvalorizar a polémica gerada depois de o Governo ter decretado luto nacional, entre quinta-feira e sábado, pela morte do Papa Francisco e ter cancelado a sua agenda festiva relativa à Revolução dos Cravos.
"Quem vem todos os anos sabe que é sempre assim. São milhares e milhares de pessoas que gostam de celebrar Abril e aquilo que significa o 25 de Abril, a liberdade, a democracia, mas também o Serviço Nacional de Saúde, a Escola Pública. Este é um dia de festa do povo português e, infelizmente, temos um governo que esteve à janela ou que está à janela a assistir", criticou o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos.
No entanto, segundo o líder do PS, este executivo de Luís Montenegro "só é Governo até ao dia 18 de Maio".
"Nós estamos absolutamente convencidos de que vamos ganhar estas eleições e que vai haver uma mudança, uma mudança segura, porque nós temos um governo que não é de confiança", disse.
Para Pedro Nuno Santos, "este Governo está muito distante do sentir do povo português" e "fez uma avaliação errada, tomou uma decisão que foi rejeitada pelas pessoas" porque "os portugueses valorizam o que significa o 25 de Abril".
A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, classificou a manifestação na Avenida da Liberdade como "uma grande lição ao primeiro-ministro e ao Governo, que entende que se pode adiar as comemorações do 25 de Abril como se a democracia ficasse à espera de um momento mais conveniente para o Governo celebrar".
"A democracia não fica à espera, o povo não fica à espera e esta é a prova disso mesmo", insistiu.
Considerando que o 25 de Abril foi "mágico e maravilhoso", Mortágua alertou que "ele não nos vai proteger para sempre", e agradeceu "a quem o fez".
"Deram-nos 50 anos de liberdade, 50 anos para combater e para prevenir as vestes do racismo e do autoritarismo. Mas ele não dura para sempre e nós vamos ter que lutar por ele, lutar com ele para sempre pela liberdade", advertiu, apelando aos eleitores que levem às urnas "a energia, a vibração, a alegria e o desejo ardente pela liberdade" sentido na rua.
Pelo PCP, o secretário-geral, Paulo Raimundo, realçou que o desfile não é "nenhuma festa", mas sim a celebração de "uma grande Revolução" que "acabou com o fascismo".
"As festas podem ser adiadas, as celebrações não são adiadas. E talvez que a maior resposta a essa brincadeira que o Governo decidiu fazer é aquilo que está a acontecer aqui", considerou.
Interrogado sobre se este desfile já tem os olhos postos na campanha eleitoral das legislativas de maio, Raimundo rejeitou, afirmando que este é uma celebração "com os olhos postos em Abril, na esperança que abriu".
Rui Tavares, porta-voz do Livre, classificou o 25 de Abril como "uma espécie de Natal da Liberdade" e considerou que o Governo "pode tirar como lição" deste desfile "que deve participar da alegria do povo quando o povo celebra a liberdade".
"O Governo deve ter gratidão porque hoje não celebramos só o 25 de Abril de 74, celebrámos o de 75, o primeiro voto livre e universal, (...). Isso foi pela primeira vez há 50 anos, é esse voto que dá legitimidade aos Governos. Um Governo que não percebe isso é um Governo que é ingrato e não percebe de onde é que vem a sua legitimidade", acusou.
O PAN, pela voz de Inês Sousa Real, lamentou que "alguém não quis que se celebrasse" o 25 de Abril, mas "o povo mais uma vez saiu à rua".
"Não podemos esquecer a utilidade que o 25 de Abril continua a ter perante as ameaças à democracia", defendeu.
À direita, o líder da IL, Rui Rocha, foi o único a considerar que apenas esteve em causa "um problema de comunicação do Governo".
"O Governo decidiu limitar essa celebração a si próprio, eu também não tenho memória de grandes comemorações do próprio Governo. As comemorações grandes são aquelas que acontecem na Assembleia da República, as que acontecem na Avenida da Liberdade e aquelas que acontecem um pouco por todo o país, organizadas de forma espontânea, dos portugueses que celebram o seu dia da liberdade. Portanto, não há nada que possa impedir isso e também, para ser justo, não me parece que tenha sido essa a intenção do Governo nesta matéria", relativizou.