Há alguns anos que a deficiência de iodo, essencial para o “bom funcionamento da tiroide” e para o “desenvolvimento adequado da estrutura óssea e do sistema nervoso central em fetos e bebés”, é uma preocupação de saúde pública. Mas a situação poderá estar a agravar-se.
"A alteração dos hábitos alimentares dos portugueses, com um decréscimo significativo do consumo diário de pescado", aliada à preferência por refeições à base de alimentos processados, poderá comprometer a ingestão adequada deste micronutriente, alerta a nutricionista especialista em Nutrição Comunitária e Saúde Pública Joana Sousa.
Apesar de não existir "estudos recentes de retrato nacional que permitam dizer de forma objetiva e com confiança quais os níveis médios de iodo na população portuguesa", as investigações têm demostrado alguns défices deste micronutriente, sobretudo em grupos de maior risco: crianças em fase de amamentação e mulheres grávidas, aponta, em entrevista à SIC Notícias, a professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
📢 CURIOSIDADE: As necessidades de consumo de iodo são significativamente mais altas durante a gravidez e o período em que a criança está em fase de amamentação.
Quais são as principais fontes alimentares de iodo?
A única forma de obtermos iodo é por via da alimentação, estando "naturalmente presente em alguns alimentos*". Além disso, também é “adicionado a alguns tipos de sal” e pode ainda ser encontrado "sob a forma de suplemento alimentar", realça Joana Sousa.
*As principais fontes alimentares de iodo são os alimentos do mar (marisco, peixes de água salgada, como bacalhau, goraz ou pargo, e algas), os produtos lácteos (queijo e iogurte) e o ovo.
Clique nos botões para descobrir a quantidade de microgramas (µg) de iodo presente em cada alimento:
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo recomendado de sal é, no máximo, de cinco gramas por dia. Ora, "se a opção [de ingestão de iodo] for por sal iodado, isso por si só forneceria cerca de 125 µg de iodo diariamente, cobrindo praticamente a recomendação de consumo diário para um adulto (150 µg/dia)", destaca a nutricionista.
Mas "embora seja permitida a comercialização de sal iodado em Portugal, é importante referir que a sua utilização não é obrigatória nem integra as recomendações nacionais para a população portuguesa", frisa a especialista em nutrição comunitária.
Portanto, quem escolher consumir sal iodado deve "complementar com uma alimentação saudável, equilibrada e variada com escolha diária de alimentos fonte deste micronutriente", sublinha ainda.
📢 RECOMENDAÇÃO: A Direção-geral da Saúde (DGS) aconselha, desde 2013, o uso de sal iodado como medida preventiva contra a deficiência de iodo, especialmente em grupos vulneráveis, que neste caso "é o período dos 1.100 dias de vida, desde a preconceção até aos dois anos de vida*". Porém, destaca que a sua ingestão deve ser acompanhada pelo consumo de peixe e produtos do mar.
Qual é a quantidade diária recomendada de iodo?
De acordo com a EFSA (European Food Safety Authority), as quantidades diárias adequadas de ingestão de iodo são na ordem da micrograma por dia (µg/dia), variando entre 70 e 200 µg/dia, dependendo da fase do ciclo de vida do indivíduo:
E se o problema for... excesso de iodo?
O consumo excessivo de iodo, assim como a sua falta, pode representar riscos para a saúde. De acordo com os investigadores, existe um limite máximo recomendado para a ingestão diária deste micronutriente, que varia conforme a idade.
Os riscos do consumo excessivo dependem da quantidade e tempo de excesso de ingestão, sendo que os mais comuns podem resultar em distúrbios da tiroide, incluindo hipotiroidismo, hipertiroidismo ou doenças autoimunes da tiroide.
Embora a deficiência de iodo seja uma preocupação que existe há décadas, as suas causas parecem estar a evoluir, podendo estar a “afetar grupos populacionais que anteriormente não eram considerados vulneráveis”. Joana Sousa justifica, por isso, a importância de "estar atento e monitorizar", mas alerta para a necessidade de abordar o tema com equilíbrio, evitando alarmismos desnecessários.