Um tiroteio na Apalachee High School, no estado norte-americano da Geórgia, deixou uma comunidade de luto e levantou questões sobre os acontecimentos que levaram à morte de dois alunos e dois professores, para além de ferimentos em nove outras pessoas. Colt Gray, de 14 anos, e o seu pai, Colin Gray, de 54 anos, são ambos acusados de crimes graves relacionados com o massacre que ocorreu na passada quarta-feira.

De acordo com uma transcrição obtida pela Associated Press, Colin Gray descreveu o seu filho Colt como um rapaz problemático, moldado pelas consequências emocionais de uma família desestruturada e pelas provocações dos colegas na escola.

Expresso

Uma família fraturada

Quase um ano antes do tiroteio, as autoridades do condado de Jackson abriram um inquérito depois de ter sido publicada no Discord, uma plataforma popular entre os jogadores de vídeo, uma ameaça online de tiroteio numa escola. Embora Colt fosse suspeito, o inquérito foi encerrado sem provas suficientes que o ligassem à ameaça. No seu depoimento aos investigadores, Colin Gray rejeitou a possibilidade de o seu filho estar por detrás da ameaça.

Colin Gray disse aos investigadores, em maio de 2023, que o filho tinha passado por dificuldades desde que a família tinha sido despejada da sua casa, um ano antes. Esse despejo marcou o início do fim da relação entre os pais de Colt, fraturando a família e deixando pai e filho sozinhos. A mãe de Colt partiu pouco tempo depois, levando consigo os seus dois irmãos mais novos.

Colin Gray revelou também que o seu filho era frequentemente vítima de bullying na escola. “Tinha poucos amigos e era frequentemente gozado”, explicou, referindo que alguns alunos o "ridicularizavam dia após dia".

Entusiasmo por armas

Pai e filho encontraram interesse partilhado pela caça e armas de fogo. Colin Gray contou aos investigadores como incentivou Colt a passar menos tempo nos videojogos e mais tempo ao ar livre, participando em atividades como a caça. Quando Colt matou o seu primeiro veado, o pai mostrou orgulhosamente uma fotografia do filho com “sangue nas bochechas” devido à experiência, chamando-lhe “o melhor dia de sempre”.

No entanto, as preocupações sobre a sua relação com as armas não tardaram a surgir. Embora Colin Gray tenha insistido que sempre deu ênfase à segurança das armas, os investigadores descobriram mais tarde que Colt tinha tido acesso a uma espingarda semiautomática do tipo AR-15, que foi utilizada no tiroteio na escola. Colin Gray enfrenta agora acusações de homicídio em segundo grau por alegadamente ter fornecido a arma, sabendo que o seu filho “era uma ameaça para si próprio e para os outros”.

Proteção da polícia em redor da escola
Proteção da polícia em redor da escola CHRISTIAN MONTERROSA

Comparência em tribunal e acusações

Colt Gray, descrito pelo investigador como “calmo, tranquilo e reservado”, negou ter feito quaisquer ameaças. Afirmou ter deixado de usar o Discord meses antes, sugerindo que a sua conta tinha sido pirateada. “A única coisa que tenho é o TikTok, mas só vou lá para ver vídeos”, disse o adolescente.

Colin Gray insistiu que o seu filho não era um solitário ou um desordeiro. “Ele só quer ir para a escola, fazer as suas coisas e não quer problemas”, disse ao investigador.

Tanto Colt como Colin Gray compareceram em tribunal na sexta-feira. Colt enfrenta múltiplas acusações de homicídio, enquanto o seu pai é acusado de homicídio em segundo grau. Até à data, os seus advogados recusaram-se a pedir fiança. Os mandados de captura indicam que o pai de Colt Gray forneceu a espingarda ao filho, apesar de conhecer o comportamento perturbador e as dificuldades emocionais do menor.