“Estou imensamente grata pelo extraordinário apoio que recebi desde o início do processo. Agora quero contar a minha história pelas minhas próprias palavras”. Gisèle Pelicot anunciou, assim, que está a escrever um livro de memórias sobre os crimes cometidos pelo seu ex-marido, Dominique Pelicot, e por mais 51 homens que ele recrutou ao longo de nove anos para a violarem, totalmente inconsciente.

A francesa, de 72 anos, contou ao jornal britânico “The Guardian” que a obra será publicada em 21 línguas (ainda não se sabe se em português) e tem data de publicação prevista para 27 de janeiro de 2026. “Através deste livro, espero transmitir uma mensagem de força e coragem a todos os que foram sujeitos a situações difíceis. Que nunca sintam vergonha. E que, com o tempo, possam até aprender a saborear a vida de novo e encontrar paz”, disse.

O caso de Gisèle, que ficou conhecido em setembro do ano passado, começou por chocar França e depressa abalou o resto do mundo. Dominique foi condenado, em dezembro, por crime de violação agravada e por ter tirado e distribuído fotografias íntimas da mulher, da filha, Caroline Darian, e ainda das duas noras. Encontra-se a cumprir pena máxima de prisão (20 anos). Os restantes homens foram todos considerados culpados: 47 por violação, dois por tentativa de violação e dois por agressão sexual.

O livro de memórias chama-se, pelo menos provisoriamente, “Um hino à vida” (“Un hymne à la vie”). Em França será editado pela Flammarion e no Reino Unido pela The Bodley Head, marca da Penguin Random House. Caroline Darian, filha de Gisèle e Dominique, também publicou recentemente um livro sobre o caso, com o título “E Deixei de te Chamar Papá: Quando a Submissão Química Destrói uma Família” (editado em Portugal pela Guerra e Paz) e falou com o Expresso sobre isso mesmo no mês passado.

Gisèle Pelicot tornou-se um símbolo feminista de coragem e luta contra a violência sexual, não só pelo que passou mas por ter recusado o pedido de sigilo judicial durante o julgamento, ao contrário do que é habitual neste tipo de casos para que as vítimas de crimes sexuais não sejam expostas. Explicou, na altura, que rejeitou o anonimato por “vontade e determinação para mudar a sociedade”.