![Governo moçambicano admite desafios para fazer chegar medicamentos aos doentes](https://homepagept.web.sapo.io/assets/img/blank.png)
"Antes dos anúncios dos Estados Unidos [de suspensão dos apoios] tínhamos um ?stock' de nove meses no país e com o alívio estamos tranquilos (...). A questão de medicamentos, em termos de quantidade, estamos confortáveis. Mas agora o desafio é o medicamento chegar à boca do doente e este pilar é fundamental e todos temos que colaborar para que o medicamento chegue à boca do doente", declarou à comunicação social Ussene Isse.
O responsável realizou hoje uma visita a duas fábricas de medicamentos na província de Maputo, no sul de Moçambique, as quais desafiou a produzirem fármacos com vista a reduzir a dependência externa e oferecer medicamentos para o Sistema Nacional de Saúde.
"Cheguei à conclusão de que temos condições no país para resolver os principais problemas de saúde, porque encontrei aqui uma linha de produção de medicamentos que responde ao perfil de doenças do nosso país. Estas fábricas vão poder exportar para países vizinhos, porque tem qualidade", disse o ministro da Saúde.
Moçambique foi o membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que mais ajuda recebeu da Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID, em inglês) em 2023, totalizando 664,122 milhões de dólares (639,70 milhões de euros).
Os dados constam numa das poucas páginas eletrónicas na internet que ainda contêm informações oficiais da USAID após uma decisão do Governo de Donald Trump de desmantelar a agência, sendo que 2023 é o ano fiscal mais recente para o qual há informações completas, segundo dados divulgados pela Lusa em 04 de fevereiro.
No universo da CPLP, Angola seguiu-se a Moçambique na lista de maiores recetores de auxílio da USAID no ano fiscal de 2023, com 71,320 milhões de dólares (68,7 milhões de euros), à qual se juntaram, por ordem decrescente, o Brasil com 68,985 milhões de dólares (66,45 milhões de euros) e Timor-Leste com 43,688 milhões de dólares (42,08 milhões de euros).
O Sistema Nacional de Saúde moçambicano enfrentou, nos últimos dois anos, diversos momentos de pressão, provocados por greves de funcionários, convocadas, primeiro, pela Associação de Médicos Moçambicanos, contra cortes salariais e falta de pagamento de horas extraordinárias, e depois pela Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM), em defesa de melhores condições de trabalho também para outros profissionais.
Entre outros aspetos, a associação exige que o Governo providencie medicamentos aos hospitais, que têm, em alguns casos, de ser adquiridos pelos pacientes, a aquisição de camas hospitalares, a resolução do problema da "falta de alimentação", bem como o equipamento de ambulâncias com materiais de emergência e equipamentos de proteção individual não descartável, cuja falta vai "obrigando os funcionários a comprarem do seu próprio bolso".
O Observatório Cidadão para Saúde (OCS) também pediu, em junho do ano passado, esclarecimentos do Governo moçambicano sobre a alegada falta de medicamentos "essenciais" nos hospitais públicos, apesar de apontar que existe "'stock' suficiente" para os administrar aos pacientes.
O Governo moçambicano confirmou no mesmo mês que gasta anualmente oito mil milhões de meticais (116 milhões de euros) na aquisição de fármacos.
No passado dia 07, Inocêncio Impissa, porta-voz do Governo moçambicano e ministro da Administração Estatal e Função Pública, disse que a suspensão do financiamento norte-americano tem também implicações na aquisição e distribuição de medicamentos, e destacou a importância do apoio para manter programas estratégicos e prioritários de saúde em Moçambique, como o combate, entre outras doenças, ao VIH/Sida e tuberculose.
PYME (MYMM)// MLL
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