
"Consideramos a ocupação [israelita] e os seus líderes terroristas criminosos totalmente responsáveis ??pelas repercussões da incursão terrestre na Faixa de Gaza central, o que constitui uma nova e perigosa violação do acordo de cessar-fogo assinado", declarou hoje o grupo armado palestiniano.
O Hamas condenou a incursão israelita no Corredor Netzarim, uma área militar e posto de controlo de segurança localizado a sul da Cidade de Gaza, de onde Israel se retirara em 09 de fevereiro como uma das exigências da primeira fase do acordo de cessar-fogo.
O grupo palestiniano reiterou o seu compromisso com o acordo de cessar-fogo e pediu aos mediadores internacionais (Egito, Qatar e Estados Unidos) que "assumam as suas responsabilidades para impedir estas violações e incumprimentos irresponsáveis" por parte de Israel.
No mesmo sentido, responsabilizou ainda o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, por "quaisquer repercussões que possam surgir" com estas novas operações militares.
A movimentação de tanques para Netzarim não é considerada uma invasão total, mas trata-se da maior escalada qualitativa de novas hostilidades desde o cessar-fogo de 19 de janeiro, de acordo com o diário israelita Jerusalem Post.
Israel anunciou hoje operações terrestres "direcionadas" na Faixa de Gaza para "criar uma zona tampão parcial".
Fontes citadas pela agência EFE descreveram um bloqueio da autoestrada Salah al-Din, que liga o enclave palestiniano de norte a sul.
As operações militares terrestres seguem-se a uma vaga de ataques aéreos israelitas na Faixa de Gaza, que fizeram mais de 400 mortos e quase 700 feridos, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, e que mereceu ampla condenação internacional.
O grupo palestiniano considerou que as "repetidas ameaças sionistas" de expulsar os habitantes do seu território revelam "a profundidade da crise que o Governo do criminoso de guerra Netanyahu enfrenta atualmente", numa referência às dificuldades internas do chefe do Governo israelita e do seu executivo.
Anteriormente, o Hamas indicou na manhã de hoje que continua disponível para negociações com Israel, apesar dos intensos bombardeamentos israelitas.
"Não encerrámos a porta às negociações", disse Taher al-Nunu, um dos porta-vozes do Hamas, referindo que o grupo islamita aceitou as propostas apresentadas pelos enviados dos Estados Unidos para o Médio Oriente, Steve Witkoff, e para as negociações de libertação dos reféns, Adam Boehler.
Al-Nunu afirmou que o Hamas está em contacto com os mediadores internacionais para que Israel "pare com a sua agressão", respeite o que foi assinado e inicie as negociações para a segunda fase do acordo, que contempla a retirada dos soldados israelitas da Faixa de Gaza e a libertação dos reféns mantidos no enclave que ainda estão vivos.
Al-Nunu pediu "ações urgentes" para travar a ofensiva contra a Faixa de Gaza e que Israel permita a entrada de ajuda humanitária no enclave palestiniano, sublinhando que "as condenações [verbais] não são suficientes".
O Governo israelita ameaçou hoje por seu lado causar "destruição e devastação total" na Faixa de Gaza se os 59 reféns ainda detidos pelo Hamas não forem libertados.
"Israel agirá com uma intensidade que nunca viram", ameaçou o ministro da Defesa, Israel Katz, numa declaração em vídeo transmitida nas redes sociais, acrescentando que a alternativa à libertação dos reféns "é a destruição total e a devastação".
Israel retomou a campanha de bombardeamento na Faixa de Gaza na madrugada de terça-feira, após uma trégua de quase dois meses, iniciada em 19 de janeiro, ao fim de mais de 15 meses de ofensiva.
Na primeira fase do acordo, 33 reféns israelitas (oito dos quais mortos) foram entregues pelo Hamas em troca de quase 1.800 prisioneiros palestinianos nas cadeias de Israel.
Permanecem ainda 59 reféns em posse do grupo palestiniano, dos quais Israel suspeita que 35 estejam mortos.
O Hamas atacou o sul de Israel em 07 de outubro de 2023, matando cerca de 1.200 pessoas e capturando 251.
Em resposta, Israel lançou um ataque em grande escala na Faixa de Gaza, matando mais de 49.000 pessoas, na maioria civis, segundo números das autoridades locais, destruindo a maior parte do enclave palestiniano, que está mergulhado numa grave crise humanitária.
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