
A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) acusou, esta quarta-feira, Israel de usar a ajuda humanitária como "moeda de troca" na Faixa de Gaza, que foi privada do acesso a bens vitais, como eletricidade e alimentos.
"As autoridades israelitas estão, mais uma vez, a normalizar o uso da ajuda como ferramenta" nas negociações de cessar-fogo, disse a coordenadora de emergência dos MSF, Myriam Laaroussi, em comunicado.
Israel anunciou, a 2 de março, ter decidido bloquear a entrada de ajuda humanitária em Gaza, na sequência de desentendimentos com o movimento islamita Hamas sobre a continuidade do acordo de cessar-fogo.
Cortar o fornecimento de energia elétrica "terá repercussões graves"
A organização não-governamental explicou que, ao obrigar a principal central de dessalinização do território palestiniano a funcionar com combustível, dado que Israel cortou a eletricidade no domingo, a produção de água potável caiu drasticamente de 17 milhões de litros de água por dia para 2,5 milhões.
"Esta decisão de cortar o fornecimento de energia elétrica terá repercussões graves no abastecimento público de água e na saúde da população", que já atravessa uma grave crise humanitária.
Israel está a tentar aumentar a pressão sobre o Hamas antes das negociações no Qatar sobre a continuação da frágil trégua em Gaza, em vigor desde 19 de janeiro, permitindo a troca de reféns israelitas sequestrados durante o ataque do Hamas, a 07 de outubro, por palestinianos presos em Israel.
Antes do bloqueio, centenas de camiões que transportavam bens essenciais para Gaza conseguiram abastecer o território durante várias semanas.
"Embora tenham entrado mais camiões durante o cessar-fogo, o sistema de entrada de mercadorias das autoridades israelitas - utilizado sistematicamente para dificultar a ajuda humanitária - impediu-nos de nos desenvolvermos adequadamente, mesmo antes deste bloqueio", referiram os MSF.
Os últimos bens que as equipas dos MSF conseguiram entregar em Gaza foram três camiões de material médico, em 27 de fevereiro.
"Os esforços de ajuda permaneceram limitados pelos requisitos obrigatórios e não transparentes das autoridades israelitas para a autorização prévia - e muitas vezes rejeição - dos chamados artigos de uso duplo, como bisturis, tesouras, concentradores de oxigénio, unidades de dessalinização e geradores", criticou ainda a ONG.
"Mesmo quando estes artigos são aprovados para entrada, o processo é longo e continua a ser complexo e burocrático", acrescentou.