As novas taxas alfandegárias de 25% impostas pelo Presidente Donald Trump às importações do México e do Canadá entraram em vigor esta terça-feira, juntamente com a duplicação das taxas sobre os produtos chineses para 20%.

No caso das importações do Canadá e do México, a medida tinha sido suspensa por um mês após negociações entre os países, mas acabou por avançar apesar dos vários alertas que têm soado.

A perspetiva de uma escalada da guerra comercial lançou a economia mundial para uma onda de turbulência, com receio de que a inflação se agrave e o setor automóvel possa vir a sofrer caso os dois maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos, o Canadá e o México, sejam sobrecarregados com impostos.

Além disso, a Europa também está na mira dos Estados Unidos. Na semana passada, o presidente dos Estados Unidos anunciou que os produtos europeus estarão em breve sujeitos a taxas alfandegárias de 25%.

"Tomámos a decisão e anunciá-la-emos em breve: será de 25%", garantiu Trump, no final de uma reunião do seu Governo na Casa Branca.

No que respeita à China, os Estados Unidos decidiram aumentar para 20% as taxas sobre produtos chineses também a partir de desta terça-feira.

China impõe taxas adicionais sobre produtos agrícolas dos EUA

No mesmo dia em que as novas tarifas norte-americanas entram em vigor, a China anunciou a imposição de taxas alfandegárias adicionais de até 15% sobre as importações dos principais produtos agrícolas dos Estados Unidos, incluindo frango, carne de porco, soja e carne de vaca.

As taxas, que foram anunciadas pelo Ministério do Comércio, deverão entrar em vigor a partir de 10 de março e seguem-se à ordem do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

As importações de frango, trigo, milho e algodão cultivados nos Estados Unidos enfrentarão uma taxa extra de 15%, informou o ministério.

As taxas sobre o sorgo, a soja, a carne de porco, a carne de vaca, os produtos do mar, as frutas, os legumes e os produtos lácteos serão aumentados em 10%, acrescentou.

A China advertiu que "não cederá a pressões" e acusou os Estados Unidos de utilizarem as taxas alfandegárias como instrumento político, no meio de uma escalada da guerra comercial entre as duas potências.

"A China não tolera a hegemonia nem a intimidação. Se os EUA insistirem em táticas de pressão máxima contra a China, escolheram o adversário errado", disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jian, em conferência de imprensa.

Lin afirmou que "os Estados Unidos impõem taxas para desviar a atenção dos seus próprios problemas internos".

De acordo com o porta-voz, estas medidas "não resolverão os desafios dos EUA, mas prejudicarão a cooperação bilateral em sectores-chave, como a tecnologia".

Apesar da escalada das tensões, o porta-voz disse que Pequim continua empenhada no diálogo, mas sublinhou que este deve ser feito "com base na igualdade e no respeito e benefício mútuos".

"Se os EUA querem realmente resolver os seus problemas, devem encetar negociações sérias."

A guerra contra o fentanil

Trump comprometeu-se a impor uma taxa adicional de 10% à China - já tinha anunciado 10% anteriormente - com o argumento de que o país não fez esforços suficientes para combater a entrada de fentanil nos Estados Unidos.

O ministério chinês do Comércio afirmou que "a China é um dos países com as políticas de controlo de drogas mais rigorosas e abrangentes do mundo" e que tem cooperado ativamente nesta questão com todas as nações do mundo, "incluindo os Estados Unidos".

Trump fez depender as taxas de "progressos" na luta contra o tráfico de fentanil, anunciando também taxas de 25% contra o México e o Canadá.

"As drogas estão a vir do México e muitas delas estão a vir da China; não todas, mas muitas delas estão a vir da China."

Canadá anuncia decisão de retaliar

Na segunda-feira, o Canadá anunciou a decisão de retaliar imediatamente contra as tarifas dos Estados Unidos sobre produtos canadianos, impondo taxas de 25% sobre importações norte-americanas no valor de 102 mil milhões de euros.

O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, em antecipação.

"O Canadá não permitirá que esta decisão injustificada não seja contestada. Se as tarifas dos Estados Unidos entrarem em vigor esta noite, o Canadá responderá com tarifas de 25% contra 155 mil milhões de dólares [canadianos] de bens dos EUA a partir das 12:01 de amanhã [terça-feira] ", afirmou Trudeau.

"As nossas tarifas permanecerão em vigor até que a ação comercial dos EUA seja retirada e, caso as tarifas dos EUA não cessem, estamos em discussões ativas e contínuas com as províncias e os territórios para aplicar várias medidas" alternativas, acrescentou Trudeau.

Estas medidas poderão incluir a interrupção das exportações de energia (tanto gás e petróleo como eletricidade) para os Estados Unidos, algo que vários chefes de governo provinciais sugeriram e que poderá deixar milhões de casas no norte dos Estados Unidos sem eletricidade.

O líder canadiano recordou que as tarifas impostas pelo chefe de Estado norte-americano "violam o mesmo acordo que foi negociado pelo Presidente Trump no seu anterior mandato" e que o Canadá respondeu às exigências que Washington impôs em janeiro para evitar as tarifas.

O Canadá reforçou a segurança das fronteiras com investimentos de quase mil milhões de dólares, colocou milhares de agentes nas zonas fronteiriças com os Estados Unidos e reforçou as medidas de prevenção do tráfico de droga, incluindo a nomeação de um "czar do fentanil".

Como resultado dessas medidas, o tráfico de fentanil do Canadá para os Estados Unidos praticamente cessou em janeiro deste ano, quando as autoridades norte-americanas apreenderam apenas 0,01 kg de fentanil, de acordo com dados das próprias autoridades dos EUA revelados por Trudeau.


- Com Lusa