O novo líder da Síria, Ahmed Hussein al-Charaa, afirmou esta terça-feira esperar que 14 milhões de refugiados regressem ao país nos próximos dois anos, após a queda do regime de Bashar al-Assad, em dezembro.
"Tenho a certeza de que, nos próximos dois anos, dos 15 milhões de sírios no exílio, apenas um milhão ou 1,5 milhões permanecerão no estrangeiro", disse Charaa a um 'youtuber' jordano que tem 14,6 milhões de subscritores.
Ahmed Hussein al-Charaa, também conhecido como Abu Mohamed al-Jolani, é o chefe do grupo jihadista Hayat Tahrir al Sham (HTS) que derrubou Assad e atual líder 'de facto' da Síria.
Charaa acusou o regime de Assad de "confiscar as casas das pessoas e de as obrigar a fugir apenas com a roupa do corpo" para a província de Idlib ou para países como o Líbano e a Jordânia, "que já tinham problemas económicos".
Disse que mais de 3,5 milhões de pessoas foram enviadas para a Turquia e outras fizeram-se ao mar "para chegar a países que podem ou não acolhê-las ou confiná-las em campos, recolher os seus dados e impressões digitais".
Muitos dos que tentaram atravessar o mar morreram afogados, incluindo mulheres e crianças, assinalou.
"É desanimador, mas agora podem dizer a estas pessoas que 'a vossa terra foi restaurada'", afirmou, citado pela agência espanhola Europa Press.
Charaa disse também que Assad transformou as pessoas no inimigo do regime.
"Tinham medo do povo, por isso criaram instituições para o encurralar. O seu conceito de autoridade significava controlar todos os aspetos de uma pessoa para a explorar", referiu.
Pede que se evite "mentalidade de vingança"
O novo líder sírio avisou que o país enfrenta muitos desafios e que é necessário estabelecer políticas estáveis para que "as pessoas possam viver juntas em paz".
Apelou para que se evite "uma mentalidade de vingança" e defendeu que os casos graves, como os de responsáveis pela tortura e assassínio na prisão de Sednaya, devem ser tratados pelo aparelho judicial.
"Caso contrário, prevalecerá a lei da selva", afirmou.
"Não podemos começar a derramar o sangue"
Charaa defendeu que a amnistia anunciada pelas novas autoridades após a chegada ao poder "teve um impacto positivo e ajudou a evitar muito derramamento de sangue".
"Agora que Deus nos deu a vitória, não podemos começar a derramar o sangue das pessoas e a fazer prisões, pois isso destruiria a nossa credibilidade. Temos de encontrar um equilíbrio entre os direitos individuais e a amnistia geral", afirmou.
Pediu ainda que se deve deixar as pessoas respirar, reconstruir o país e dar prioridade ao perdão, exceto nos casos daqueles que cometeram crimes sistemáticos e organizados.
"Não me sinto moralmente obrigado para com eles", afirmou.
Charaa disse ainda que deve ser dada prioridade à adoção e uma mentalidade de Estado, argumentando que "a mentalidade revolucionária não pode construir um Estado".
"O país tem de ter instituições, um presidente, um parlamento, um governo e planos estratégicos", acrescentou.