“O ministro da Presidência anunciou, esta quarta-feira, que o Governo cancelou a presença de governantes em toda a "agenda festiva" e adiou as celebrações próprias relativas ao 25 de Abril, alegando que o luto nacional pelo Papa Francisco implica reserva nas comemorações.”, jornal Expresso, 23 de abril

A liberdade está fragilizada e o governo deu glitch: é assustadoramente irónico que, num suposto Estado Laico, se adiem as celebrações da libertação da ditadura do “Deus, Pátria, Família” devido à morte do chefe da Igreja Católica. Esta decisão do Governo é um mero sintoma: o direito à liberdade está em crise. Este é o momento em que mais temos de sair à rua — todos, todos, todos —, manifestar e celebrar o nosso direito à Liberdade.

A realidade é que o Estado de laico tem pouco e não faltam exemplos. Relembremo-nos de como em Portugal a Igreja Católica está isenta de pagar impostos; e de como, durante a pandemia, enquanto outros eventos tiveram de ser cancelados, era possível ir à Eucaristia.

Ora, mesmo tendo em conta o suposto Estado Laico de Portugal, não me parece problemático demonstrar uma mensagem de pesar do governo pela morte do Papa Francisco, aliás, pelo contrário, já que o Papa teve uma visão muito progressista dentro do contexto da doutrina católica. No entanto, declarar luto nacional num Estado Laico que inclua adiar as festividades do 25 de abril e cancelar a presença dos governantes nas mesmas, parece-me, no mínimo, incongruente.

Que se coloque a bandeira a meia-haste. Que se acendam velas ao Papa Francisco, se assim o entenderem. Falem como, mesmo com limitações, Ele foi o Papa mais progressista da Igreja Católica. Mas também celebrem a Liberdade, num momento em que sabemos como ela é frágil e nunca garantida. Aposto que o Papa Francisco, sendo progressista como era, ficará contente ao ver-nos a sair à rua com cravos vermelhos a favor da Liberdade.

Caro Governo Português, o culto religioso pode ser feito nos mesmos dias em que se celebra a Liberdade na rua. O cravo vermelho não anula a liberdade de usarem a cruz ao peito. No entanto, é muito triste que a vossa cruz ao peito vos impeça de ver a urgência de manifestar o direito à liberdade.

25 de Abril, Sempre.