Apesar do vendaval Trump, do circo da imprevisibilidade e irracionalidade, da erosão da liderança credível da América, e da subalternização das grandes instituições internacionais, nem tudo se abala. Há que registar os bastiões da civilização e o papel dos líderes qualificados que continuam a defender a primazia das cidades sustentáveis, eficientes, responsáveis e orientadas para o futuro.

É o caso de Michael Bloomberg. Gestor, empresário e mayor carismático de Nova Iorque durante 12 anos. Continua a revelar uma postura singular. Alguém que se preocupa verdadeiramente com os temas das cidades, que sabe pensar os seus desafios e que está empenhado em contribuir para o desenvolvimento de políticas com impacto positivo. Logo que Trump abandonou os acordos de Paris, Bloomberg veio garantir que as suas fundações filantrópicas continuarão a financiar a presença americana neste fórum. É a chamada sociedade civil a assumir a defesa do bem comum.

Bloomberg, de facto, não foi um político qualquer. Foi um autarca com propósito e um agente de mudanças concretas. Trouxe para a câmara municipal de Nova Iorque as suas qualidades de gestor de empresas: a força de vontade e o otimismo, o foco na eficácia, a crença no planeamento estratégico, a obsessão pela inovação, a capacidade para mobilizar equipas, a rigorosa gestão dos processos, a orientação ao utilizador, e a determinação para atingir objetivos.

Agarrou muito bem os temas estruturais da cidade, e apostou em soluções robustas de fortes investimentos em infraestruturas e transportes públicos (desincentivando o uso do automóvel), promoveu a reconstrução rápida e criou novos espaços comuns de qualidade no cenário pós-11 de setembro, combateu vigorosamente o crime e a insegurança, incrementou os serviços de saúde municipais, e foi um acérrimo defensor de programas de eficiência energética e redução da poluição. A sua pedra de toque é ter atuado de forma desassombrada nestas áreas, não para obedecer às agendas woke, mas porque sabia que estas iniciativas transformacionais contribuem decisivamente para reduzir os custos de contexto, para estimular a produtividade e as oportunidades de criação de riqueza, e para fomentar a atratividade das cidades num enquadramento competitivo. Não seguiu estas políticas por ideologia, adotou-as por pragmatismo e com vista a gerar resultados e aumentar o bem-estar das pessoas.

Para além de gestor da cidade de Nova Iorque, Bloomberg construiu uma forte presença na arena internacional: foi um entusiástico impulsionador do C40 e tornou-se num dos campeões a nível global da lógica colaborativa e de partilha de boas práticas entre as grandes metrópoles. E, mesmo depois de ter deixado as funções públicas ativas, continua a contribuir para a reflexão sobre cidades, através das suas fundações e apoiando o trabalho de universidades e centros de conhecimento.


É esta mistura enérgica de abordagens, perspetivas e competências que pode transformar as cidades para melhor. A complexidade dos desafios em jogo não se resolve com soluções simplistas. Antes pelo contrário, a realidade requer, cada vez mais, interações dinâmicas entre competências de gestão e sensibilidade política; entre orientação para a ação e pensamento bem suportado; entre iniciativas ambiciosas que fomentem o crescimento e boas práticas que assegurem a sustentabilidade.