
Se o oceano fosse um país, a sua economia seria a quinta maior do mundo, mas pressões ambientais e dinâmicas geopolíticas ameaçam o crescimento futuro desta economia, de que dependem centenas de milhões de pessoas, alerta a OCDE.
Num relatório hoje divulgado em Paris, no âmbito do evento SOS Oceanos, organizado pela Presidência francesa e pela Fundação Oceano Azul, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) alerta que o crescimento sustentado da economia do oceano dos últimos 25 anos poderá não continuar.
"É necessário fazer face às crescentes pressões para manter a economia do oceano numa trajetória que contribua para o desenvolvimento económico sustentável, com empregos de que milhões de pessoas dependem", lê-se no relatório, intitulado "Economia do Oceano até 2050".
Segundo o documento, que faz uma análise quantitativa e qualitativa da economia do oceano, a saúde dos mares não é apenas crítica para o clima e a biodiversidade, mas também para a economia.
O oceano cobre 71% da superfície da Terra, compreende 90% da biosfera, proporciona segurança alimentar a mais de três mil milhões de pessoas, permite o transporte de mais de 80% das mercadorias a nível mundial e alberga cabos submarinos que transportam 98% do tráfego internacional da Internet.
Segundo a OCDE, entre 1995 e 2020, o oceano contribuiu com 3% a 4% do valor acrescentado bruto (VAB) global e representou até 133 milhões de empregos equivalentes a tempo inteiro (ETI).
Além disso, a economia global dos oceanos duplicou em termos reais em 25 anos, de 1,3 biliões de dólares de VAB em 1995 para 2,6 biliões de dólares em 2020, crescendo a uma taxa média anual de 2,8%.
O relatório estima que, se a tendência se mantivesse, a economia global dos oceanos poderia ser quase quatro vezes maior em 2050 do que em 1995, mas alerta que "várias forças poderão abrandar ou mesmo inverter o crescimento até 2050 se não forem tomadas medidas".
O crescimento demográfico, as alterações climáticas e outras pressões ambientais, o comércio e a globalização, a transição energética, os avanços tecnológicos e a dinâmica geopolítica, bem como as suas interações, moldarão a saúde dos oceanos e a futura trajetória de crescimento da economia do oceano, antecipam os autores do estudo, considerando que o ritmo da transição energética global pode influenciar o crescimento da economia do oceano.
No caso de uma transição acelerada para uma energia com baixo teor de carbono, a economia dos oceanos continuaria a crescer até 2050, atingindo cerca de 2,5 vezes a dimensão que tinha em 1995.
Mas uma estagnação dessa transição pode conduzir a um declínio da atividade económica global dos oceanos em relação ao nível atingido em 2020, principalmente devido a uma combinação de falta de investimento na produtividade e de efeitos negativos crescentes das alterações climáticas em muitas partes da economia dos oceanos.
A OCDE aponta por isso quatro prioridades estratégicas para promover uma economia oceânica produtiva e ambientalmente sustentável, que passam por reforçar a governação dos oceanos, promover a inovação tecnológica, melhorar a recolha de dados sobre os oceanos e assegurar a inclusão dos países em desenvolvimento nas cadeias de valor globais.
Para o reforço da governação dos oceanos, a organização sugere a utilização de instrumentos científicos de gestão dos oceanos que equilibrem as prioridades económicas e ambientais, como o ordenamento do espaço marítimo e as zonas marinhas protegidas.
Os governos são também incentivados a promover a inovação tecnológica e a transformação digital, nomadamente usando a automatização e a robótica para aumentar a produtividade e a competitividade e reduzir as externalidades ambientais.
A melhoria da recolha de dados de observação dos oceanos e da investigação científica é considerada fundamental, quando apenas 25% dos fundos marinhos estão cartografados.
O relatório considera ainda importante alargar a participação dos países em desenvolvimento na economia do oceano, salvaguardando simultaneamente os danos ambientais, encorajando políticas como a gestão sustentável das pescas e incentivos ao turismo ecológico.