"Como país temos sempre de refletir sobre como reduzir a dependência externa, mas também como melhorar a cooperação porque há questões que Moçambique não vai conseguir resolver sozinho, precisa do aprendizado e apoio dos outros países", disse Jorge Matine, em entrevista à Lusa, em Maputo.

Segundo o diretor da Organização Não-Governamental (ONG), mais de 70% do sistema público de saúde moçambicano para as áreas do VIH/Sida, tuberculose, planeamento familiar e laboratórios depende do fundo de doadores, entre os quais o Governo norte-americano, que está entre os principais, e, por isso, a suspensão do financiamento tem um "impacto enorme e significativo" sobre os serviços de saúde do país.

"É um impacto significativo, há de haver uma paralisação de serviços (...). É muito difícil para o Governo, em menos de três a seis meses, mobilizar recursos suficientes para substituir fundos americanos, isso não vai ser possível", referiu o responsável.

Jorge Matine defendeu a necessidade de o executivo moçambicano negociar com os EUA e outros doadores um "intervalo de tempo aceitável", entre um e dois anos, para "gradualmente começar a pensar" em estratégias internas para a reorganização do financiamento dos serviços de saúde, alertando para "choques" futuros.

"Será necessário que possamos aprender que, além de choques das pandemias, teremos choques como esses de governos que não temos controlo sobre eles (...).  Então [é preciso] coordenar melhor a ajuda para que seja uma ajuda que não crie alta dependência, mas ao mesmo tempo como tirar partido da cooperação para fortalecer aquilo que é o nosso sistema nacional de saúde", disse o diretor do Observatório do Cidadão para Saúde.

Nos primeiros dias do seu segundo mandato, o Presidente norte-americano, Donald Trump, suspendeu toda a ajuda internacional durante 90 dias, com exceção dos programas humanitários alimentares e da ajuda militar a Israel e ao Egito.

Espera-se que a África subsaariana seja a região mais afetada por esta decisão.

Moçambique, por exemplo, teve atribuídos em 2023 dezenas de milhões de dólares para a programas relacionados com o VIH/Sida e de emergência alimentar.

O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, será o novo diretor interino da USAID, que acusou de estar "completamente desprovida de capacidade de resposta", criticando a "insubordinação" naquele organismo.

A USAID -- cuja página eletrónica na Internet desapareceu no sábado sem explicação - tem sido uma das agências federais mais visadas pela nova administração.

Trump, assim como o responsável pelo Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), o empresário Elon Musk, e alguns congressistas republicanos têm criticado a USAID - que supervisiona programas humanitários, de desenvolvimento e de segurança em cerca de 120 países - em termos cada vez mais duros, acusando-a de promover causas progressistas.

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