Em princípio, todos temos pelo menos um conhecimento básico de como os bebés são feitos: um óvulo precisa de ser fecundado pelo espermatozoide durante uma altura precisa do ciclo menstrual para que a vida aconteça.

A penetração sexual proporciona as condições ideais para a reprodução. Mas isso não significa que todas a gravidezes aconteçam assim.

Existem também exemplos de mulheres que conceberam em circunstâncias extremamente raras que nunca julgaríamos possíveis. Eis quatro delas, segundo explica Adam Taylor professor e diretor de Clinical Anatomy Learning Centre, da Universidade de Lancaster, num artigo publicado em The Conversation.

1. Através de sexo anal

Embora os casos de gravidez resultantes de sexo anal sejam incrivelmente raros, eles acontecem. Mas só ocorreram em pessoas com uma anomalia reprodutiva, uma malformação da cloaca, a cavidade terminal do intestino, em certos animais, onde se abrem os ductos urinário e genital - ou seja, a cloaca é o “buraco comum” para urinar, defecar e reproduzir. É normalmente observado em répteis, aves e até ornitorrincos.

Nos humanos, o tecido cresce e divide a cloaca em duas ou três aberturas – dependendo do género feminino ou masculino. Mas, em casos raros, este tecido não consegue separar completamente o reto da cavidade vaginal.

Esta anomalia ocorre numa em cada 50 mil raparigas e exige cirurgia corretiva. Mas mesmo assim, há uma grande probabilidade de levar a complicações como insuficiência renal, incontinência, dificuldade em engravidar e maior risco de parto prematuro.

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Quando isto acontece, permite que os espermatozoides nadem através de qualquer abertura na parede divisória do tecido em direção ao óvulo para o fertilizar. O óvulo fertilizado irá normalmente implantar-se no útero, como habitualmente.

Os espermatozoides continuam a nadar pelo reto porque atuam por quimiotactismo - são capazes de detetar vestígios de substâncias químicas produzidas pelo óvulo. À medida que os espermatozoides nadam em direção ao óvulo, a quantidade destes “quimioatraentes” aumenta, sinalizando-lhes para continuarem a viajar na direção certa.

2. Através de sexo oral (uma acesa discussão)

A capacidade obstinada do espermatozóide para navegar em direcção ao óvulo pode ser demonstrada com o relato do caso mais bizarro registado na literatura médica.

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Uma jovem que nasceu sem vagina queixou-se ao médico de dores abdominais intermitentes, semelhantes a contrações. O que revelou ser verdadeiro, tinha um bebé a desenvolver-se no útero e as dores eram de facto de trabalho de parto. O bebé nasceu imediatamente por cesariana.

Dado que a jovem tinha nascido sem vagina, foi descartada a relação sexual como método de conceção. Mas precisamente 278 dias antes, a rapariga tinha sido internada no hospital com ferimentos de facadas na barriga, resultado de uma luta entre ela, o seu ex-namorado ciumento e o seu novo companheiro. Soube-se que, pouco antes de ocorrer a luta com facas, ela tinha praticado sexo oral com o seu novo parceiro.

Depois, quando foi realizada a cirurgia por causa das feridas de faca no estômago, o esperma que ainda existia em redor da sua cavidade abdominal foi "empurrado" – permitindo-lhes migrar e fertilizar o óvulo.

A existência de esperma na cavidade peritoneal (o espaço entre os órgãos abdominais e a parede do corpo) não é algo inédito.

Esta cavidade contém um fluido especial que ajuda os órgãos a movimentarem-se quando os alimentos passam. E a investigação demonstrou que este fluido também pode ajudar a sobrevivência do esperma, permitindo-lhe viajar através desta cavidade até ao óvulo.

3. Gravidez por "salpico" (splash)

Como o nome sugere, se o sémen salpicar para os genitais externos femininos, os espermatozoides podem entrar na vagina e nadar em direção aos ovários.

Uma gravidez por salpico é altamente improvável de acontecer, porque os espermatozoides não sobrevivem mais de meia hora fora do corpo. Embora os espermatozoides saudáveis ​​nadem até 5 milímetros por minuto, sobrevivem apenas durante um período de tempo limitado (até cinco dias nos órgãos genitais femininos).

Óvulo humano nas trompas de Falópio. Este óvulo recém fertilizado desce pela trompa de Falópio a caminho da implantação no útero.
Óvulo humano nas trompas de Falópio. Este óvulo recém fertilizado desce pela trompa de Falópio a caminho da implantação no útero. Clouds Hill Imaging Ltd./Getty Images

Das centenas de milhões de espermatozoides que são ejaculados para a vagina durante a penetração sexual, em que as condições são ideais para uma gravidez, apenas 200 a 300 chegarão ao óvulo.

É impossível uma gravidez por "salpicos" a partir de espermatozoides na água do banho ou em banheiras de hidromassagem. Isto porque a água dispersa o esperma e dilui o fluido seminal que geralmente protege o esperma do ambiente hostildos genitais internos e externos da mulher. Os produtos químicos como o cloro na água também matam rapidamente os espermatozoides.

4. Gravidez dupla

O organismo tem um mecanismo que impede que ocorra uma gravidez quando a mulher já está grávida. Isto é verdade mesmo para as mulheres que nascem com dois úteros, uma vez que estes mecanismos trabalham arduamente para evitar que ocorra uma segunda gravidez.

As hormonas impedem a ovulação e produzem um tampão mucoso espessoque cobre o colo do útero para evitar que os espermatozoides entrem no útero em direção ao ovário.

Mas um fenómeno chamado superfetação é a exceção à regra - a implantação no útero de um segundo óvulo quando já está em curso uma gravidez.

Este fenómeno é tão raro que os cientistas não compreendem completamente como acontece. A maioria dos casos registados ocorreu em mulheres que recorreram a fertilização in vitro.

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As duas gravidezes acontecem geralmente muito próximas uma da outra, geralmente com duas a quatro semanas de diferença. Isto significa que os bebés podem nascer ao mesmo tempo, como gémeos. Embora exista uma diferença de idade gestacional, a maioria destas gravidezes progride normalmente e sem complicações.

Estes exemplos de formas de engravidar são extremamente raros – por isso, provavelmente não precisa de se preocupar muito. Mas se não pretende engravidar tão cedo, utilize métodos contracetivos.