Nunca a Eurovisão foi um evento tão político como nos últimos anos, e em 2025 o fenómeno parece ter chegado ao auge. Os portugueses NAPA estão entre os 25 concorrentes que este sábado, pelas 20h, começarão a desfilar, ocupando o 21º lugar no alinhamento, sendo que os três primeiros corresponderão à Noruega, o Luxemburgo e à Estónia. O começo 'politicamente suave' quebra-se logo à quarta atuação, quando chega a vez de Yuval Raphael - de 24 anos, que sobreviveu ao ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023 - representando Israel, entrar na arena de St. Jakobshalle, em Basileia, na neutral Suíça, onde a Eurovisão nasceu em 1956.

Muitas são as vozes que, nas últimas semanas, se têm levantado em oposição à participação de Israel no concurso, num momento em que o país já deu provas de não vir a cessar tão cedo o fogo sobre Gaza, que ataca quase sem tréguas há ano e meio, além de impedir a entrada de alimentos e bens de primeira necessidade no enclave e empreender bombardeamentos massivos que todos os dias somam vítimas mortais as já escandalosas 53 mil. E uma das perguntas que se colocam é a razão por que o comportamento face às duas regiões em guerra na ou próximas da Europa - Rússia e Israel - acabou por ser tão desigual no direito de estar ou não na Eurovisão. Se a Rússia foi proibida, Israel não. E por que?

A pergunta é colocada pelo segundo ano consecutivo. Em 2024, entre pressões para que se aplicassem a Israel as medidas em vigor sobre a Rússia desde 2022, banida da Eurovisão na sequência da invasão da Ucrânia - entre as quais uma carta aberta da Suécia com mais de mil signatários entregue à União Europeia e outra de 80 artistas dirigida à União Europeia de Radiodifusão (UER), organizadora da Eurovisão - a UER escusou-se argumentando com o carácter não político do evento. Na altura, Noel Curran, que preside a esta organização, emitiu um comunicado no qual transmite que a Eurovisão "não é um concurso entre governos", mas "uma competição entre radiodifusores de serviço público que são membros da UER".

Este ano, o envio de cartas à UER repetiu-se, com 70 participantes de edições anteriores - como Salvador Sobral e Lena D'Água, António Calvário, Fernando Tordo e Rita Reis, no caso dos portugueses - a exigirem a exclusão da KAN, a emissora pública israelita, por considerá-la "cúmplice do genocídio de Israel contra os palestinianos em Gaza e do regime de décadas de apartheid e ocupação militar contra todo o povo palestiniano". Acusam, também, a UER de aplicar critérios diferentes no caso da Rússia e de Israel.

Em resposta, o diretor da Eurovisão, Martin Green, disse que não compete ao certame comparar conflitos. E, reiterando o seu apoio à israelita KAN, a UER justificou a exclusão dos canais russos Russia's Channel One e Rossiya do Festival Europeu da Canção argumentando que aqueles "não respeitam os princípios dos organismos públicos de radiodifusão."

Em Basileia, desde domingo passado, quando teve lugar o ato de abertura do 69º Festival, desfila-se contra a manutenção de Israel no programa enquanto decorre um "genocídio na Palestina". Mas os protestos têm dimensões visivelmente inferiores aos que decorreram em Malmö o ano passado, congregando milhares de pessoas.