Era previsível que as teorias do economista Thomas Piketty, assim como as aventuras do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, servissem de inspiração ao Bloco de Esquerda e ao Livre. Sucedem-se, a grande ritmo, propostas de novos impostos sobre o património, as heranças, as grandes fortunas, os “Elon Musks nacionais”, e tudo o que mexe. Acontece que são falsas soluções. Trata-se de ideias aparentemente bondosas, mas que seriam na prática contra-producentes.

Em primeiro lugar destaca-se o elemento punitivo, agressivo, que caracteriza a esquerda populista no que toca às questões de criação de valor e poupança. Em vez de defender uma lógica de desenvolvimento e bem estar, há cada vez mais uma vontade de colocar em causa as bases das sociedades tais como as conhecemos, questionando a autonomia das famílias para disporem do fruto do seu trabalho, minando a segurança da propriedade privada e perseguindo a transferência de património de geração para geração.

Em segundo lugar, há uma questão de eficácia. O sistema fiscal português já é suficientemente progressivo, sobre-taxando (e bem) as famílias com maior rendimento e património imobiliário, pelo que este afã de ir sempre mais além atrás dos geradores de riqueza acaba por ser desproporcionado e nocivo. Por mais construções teóricas que se elaborem, a verdade é que vivemos em economia aberta, num mundo global, onde as políticas penalizadoras que um país venha a adotar têm a imediata consequência de o tornar menos competitivo, menos atrativo, menos previsível, logo com menor margem para atrair investimento e recursos humanos qualificados, resultando numa via rápida para a decadência.

Por outro lado, é evidente que urge abordar com seriedade e profundidade os dramas das desigualdades, da pobreza crónica, da discrepância nas oportunidades para as famílias mais desfavorecidas. Mas não é penalizando a criação de valor que se incentiva a melhoria de condições de vida, não é dividindo que se estimula a coesão, não é assustando elementos dinâmicos da sociedade que se fixam os jovens e os talentos, não é com uma agenda punitiva que se desenvolvem as capacidades transformadoras para o país. O combate às desigualdades, para ser robusto e duradouro, deve atuar sobre os fatores que contribuem para a prosperidade geral, pois só assim será possível uma verdadeira cobertura social. Há que reforçar as atividades produtivas, há que valorizar o trabalho e a poupança, e há que transmitir confiança às famílias. E claro, garantir prestações eficientes dos serviços públicos, através de uma máquina da administração moderna, atenta, presente.

As soluções não passam pela voragem de novos impostos, uns atrás dos outros, numa sequência interminável. Antes pelo contrário, essas agendas panfletárias afastam o desenvolvimento sustentável. O caminho do bem estar geral assenta numa receita bastante mais simples: fazer crescer o bolo. E, em paralelo, na promoção de um Estado social inovador, que efetivamente dê respostas adequadas às necessidades dos cidadãos.