
Às 19 horas, quando as urnas encerraram, os dados da participação eleitoral eram já um indicador de que a noite poderia trazer surpresas. A abstenção fixou-se nos 35,62% (abaixo dos 40,16% das últimas legislativas, que já tinham sido bem mais concorridas do que as anteriores). Às 20 horas, as primeiras projeções dos resultados eleitorais davam a certeza: havia uma mudança drástica na configuração parlamentar. A AD vencia, reforçando o resultado, mas o Chega subia e o PS descia de tal forma que o partido de André Ventura poderia mesmo ultrapassar o de Pedro Nuno Santos.
Na sede da AD, os resultados foram recebidos com euforia, mas foi o Chega foi o primeiro a querer falar - pela voz do líder parlamentar Pedro Pinto, para dizer que “o sistema” estava já “a tremer”. Minutos depois, surge a confirmação do primeiro deputado eleito da noite - e mais do "sistema” era difícil ser: tratava-se de António Leitão Amaro, o ministro da Presidência, candidato pelo distrito de Aveiro.
Começaram a surgir mais reações às projeções apresentadas. Hugo Soares, líder da bancada do PSD, considerava que a AD tinha saído “reforçadíssima”. O comunista João Oliveira lamentava a “alteração negativa” da composição parlamentar, mas destacava a “resistência” da CDU. Já na sede do Bloco de Esquerda – que ainda não sabia, mas ficaria reduzido a um deputado único - o silêncio era sepulcral até ser interrompido por gritos: "25 de Abril sempre, fascismo nunca mais".
Sucedem-se as confirmações de deputados eleitos, sobretudo pela AD e pelo Chega, com Luís Montenegro e André Ventura a não demorarem muito a serem reeleitos. Assim que chegou à sede de campanha, Ventura apressou-se a declarar o “fim do bipartidarismo”, assassinado pelo Chega.
Vão-se fechando as votações, distrito a distrito. Guarda é o primeiro, com a AD a vencer. Depois Beja, com o Chega em primeiro. Segue-se Bragança, com vitória da AD, assim como Vila Real, Viseu, Viana do Castelo, Castelo Branco, Santarém, Braga, Aveiro, Leiria.
E eis que surge uma grande novidade: a entrada de um novo partido no Parlamento. O Juntos Pelo Povo (JPP) consegue eleger um deputado na Assembleia da República, através do círculo eleitoral da Madeira - um momento "histórico", nas palavras do líder Élvio Sousa. Um mandato que foi roubado ao PS. Ainda assim, é a AD a vencer no arquipélago madeirense, tal como no açoriano.
Surgem mais distritos ganhos pelo Chega (em desprimor do PS): Portalegre, Faro, Setúbal. Com a AD a dominar (até em São João da Madeira, a terra de Pedro Nuno Santos), só em Évora, de todo o país, os socialistas conseguiram manter a liderança.
A meio da noite, um episódio a marcar a noite na sede de campanha da AD em Lisboa: jovens ativistas ambientais concentraram-se à porta, em protesto, a exigir o “fim ao fóssil”. Foram algemados e retirados à força pela polícia.
Chega o momento do fecho de alguns dos maiores distritos. No Porto, ganha a AD (e PS segura 2.º lugar, enquanto o BE desaparece).
Num momento em que o partido ainda não conseguira eleger qualquer deputado, a líder do Bloco de Esquerda falou ao país para assumir a “grande derrota”. Mariana Mortágua acabaria, momentos depois, por ser confirmada como a única eleita pelo partido – perde o grupo parlamentar e passa a ser deputada única.
No PS, ia-se percebendo que a percentagem de votação não subiria muito mais e começaram a ouvir-se vozes internas a questionar o futuro. Pedro Duarte já admitia a saída de Pedro Nuno Santos, enquanto Ana Catarina Mendes declarava que era o momento de o PS fazer uma “reflexão profunda” sobre o caminho a seguir.
Mais um líder partidário vem fazer o discurso de fim de noite. É Paulo Raimundo, que se mostra satisfeito por segurar o lugar de 6.ª força mais votada. A CDU acaba por cair, ao passar de quatro para três deputados, mas não morre, como se chegara a vaticinar, sublinhou o secretário-geral comunista.
Entretanto, fecham-se os distritos de Setúbal e Lisboa e encerra-se o mapa eleitoral – ficando só a faltar a contagem dos votos dos portugueses no estrangeiro. Fica-se a saber que a AD tirou a capital ao PS – e o PAN consegue resistir e voltar a eleger Inês Sousa Real como deputada única.
Contas fechadas: a AD passa de 80 para 89 deputados; o PS de 78 para 58 deputados; o Chega de 50 para 58 deputados; a IL de 8 para 9 deputados; o Livre passa de 4 para 6 deputados; a CDU passa de 4 para 3 deputados; o Bloco de Esquerda de 5 para apenas 1 deputado; o PAN mantém-se com um deputado e o JPP entra pela primeira vez, com um deputado também.
Surge Rui Tavares, líder do Livre, para fazer o seu discurso da noite. Está satisfeito com o voto de confiança dos portugueses no partido, mas preocupado com o crescimento da extrema-direita. "Não achamos que seja normal”, disse.
Segue-se Nuno Melo, líder do CDS, que fala num dia em que "se fez justiça à AD" e frisa a “derrota pesada” do PS. Diz que agora a AD continuará "a governar Portugal e a fazer aquilo que não havia nenhuma razão para ter sido interrompido".
Depois, Inês Sousa Real, do PAN, a considerar que o voto útil prejudicou a pluralidade democrática. "Não é o resultado que gostaríamos de ter tido", admitiu.
E é então tempo para um dos mais dramáticos momentos da noite: o líder do PS, Pedro Nuno Santos, aparece na sede de campanha, assumindo "tempos duros e difíceis para a Esquerda” e “para o PS" em particular. Este é o pior resultado do partido em 40 anos.
O secretário-geral socialista acaba a apresentar a demissão. Vai convocar eleições internas no partido e não vai recandidatar-se à liderança.
A seguir, foi Rui Rocha quem falou ao país. O presidente da Iniciativa Liberal, que consegue mais um deputado do que nas últimas eleições, admite, contudo, que esperava crescer mais. Faz, por isso, um anúncio: não tenciona, assim, juntar-se à AD com vista a formar governo (um namoro que tanto prometera durante a campanha).
A noite está quase a terminar, mas ainda falta reagirem os dois grandes vencedores. Eis que surge André Ventura, que aparece num discurso apoteótico, para assegurar que “nada ficará como dantes em Portugal” depois desta noite – em que, admite, quando chegarem os votos da emigração, o Chega poderá passar a ser o segundo partido com mais deputados.
"O Chega superou o partido de Mário Soares, o partido de António Guterres. Matou o partido de Álvaro Cunhal. E varreu do mapa o Bloco de Esquerda com uma pinta que nunca se tinha visto em Portugal", atirou, garantindo que este é um “ajuste de contes com a História”. "Estamos quase a poder, finalmente, governar Portugal", disse.
Finalmente, foi a vez do primeiro-ministro que precipitou estas eleições e que, submetido ao sufrágio do povo, sai delas com uma vitória reforçada. Luís Montenegro pediu que o deixassem trabalhar e os portugueses anuíram. No discurso de encerramento da noite, prometeu liderar um governo “para todos, todos, todos".