"É importante que face a esta saída tenhamos inteligência para analisar os impactos no tecido económico, na produtividade, competitividade da nossa economia, na vida das nossas universidades e comunidades", afirmou José Maria Neves, na cidade da Praia, ao receber os cumprimentos de ano novo do presidente da Assembleia Nacional, Austelino Correia.

O chefe de Estado destacou que uma análise cuidadosa da situação "é imprescindível" para assegurar "políticas consistentes" que previnam uma regressão do tecido empresarial do país.

"Creio que os diferentes grupos parlamentares devem debater esta questão de forma desapaixonada, com vista a encontrarmos as melhores soluções", apelou ainda.

O Presidente chamou também a atenção do parlamento cabo-verdiano para uma outra questão: "O mundo atravessa uma conjuntura extremamente difícil e complexa. Cabo Verde é um país de emigrantes, mas há cada vez mais restrições à mobilidade das pessoas e uma crescente discriminação contra imigrantes nos países de acolhimento".

Nesse contexto, referiu que "as vozes das comunidades" clamam por apoio, proteção e uma "presença forte" de Cabo Verde junto da sua diáspora.

"Temos de apoiar os cabo-verdianos espalhados pela nossa vasta diáspora, ajudando-os a defender os seus interesses", defendeu.

José Maria Neves destacou ainda a necessidade de se continuar a trabalhar para promover a cidadania.

"Devemos demonstrar que estamos a trabalhar em conjunto para reforçar os pilares essenciais do Estado de direito democrático. Um bom relacionamento entre os diferentes órgãos de soberania é um sinal de respeito pelas decisões do povo cabo-verdiano", referiu.

Acrescentou que é igualmente essencial que os grupos parlamentares envidem esforços para alcançar consensos fundamentais, nomeadamente sobre os órgãos externos do parlamento e sobre a lei eleitoral.

"Temos observado exigências, não só institucionais, da Comissão Nacional de Eleições, mas também da sociedade cabo-verdiana, no sentido de introduzirmos algumas melhorias", referiu.

Quanto ao setor da Justiça, destacou que há vários diplomas pendentes, como as leis orgânicas do Conselho Superior da Magistratura Judicial e as referentes às inspeções.

"São medidas importantes para mostrar à sociedade que os diferentes atores políticos estão a trabalhar no sentido de alcançar os consensos necessários. É fundamental reafirmar as nossas divergências e desacordos, mas também encontrar caminhos de entendimento", disse ainda.

Por sua vez, o presidente da Assembleia Nacional, Austelino Correia destacou que "a passagem de ano é sempre um momento de balanço, mas também de reflexão estratégica".

Um estudo sobre a qualidade da democracia e da governação em Cabo Verde, divulgado pela Afrosondagem na cidade da Praia a 20 de dezembro de 2024, revelou que 64% dos cabo-verdianos consideram emigrar, sendo a procura de emprego o principal motivo.

Em agosto, empresários cabo-verdianos afirmaram à Lusa que ponderam importar mão-de-obra devido à saída de jovens, sobretudo para Portugal.

O primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, já havia reconhecido que muitos jovens procuram melhores oportunidades fora do país, mas rejeitou a ideia de uma emigração massiva e defendeu a realização de estudos.

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