Miguel Coelho, o socialista que preside à Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, considera que a ministra da Administração Interna não tem condições para continuar em funções depois da operação policial que encostou quem estava na Rua do Benformoso, em Lisboa, à parede. Pede, ainda, que o Presidente da República lá vá pedir desculpa à população, maioritariamente do subcontinente indiano.
“Aquilo que aconteceu ontem é típico de uma ditadura islâmica ou de uma ditadura da América Latina [...]. Julgo, como cidadão e como autarca, que não há condições para a senhora ministra da Administração Interna continuar e os comandos da polícia têm de explicar porque é que fecharam uma rua inteira e encostaram pessoas à parede. Seriam capazes de fazer isto em Campo de Ourique, nas Avenidas Novas, no Lumiar?”, questionou o autarca, citado pela agência Lusa.
“O senhor Presidente da República devia vir aqui pedir desculpa a estas pessoas”, declarou Miguel Coelho, em respostas transmitidas pela CNN Portugal.
À CNN Portugal, Miguel Coelho considerou que não há, nesta operação, qualquer efeito de aumento do sentimento de segurança. “Esta operação policial foi inaceitável num Estado democrático e num Estado de Direito que respeita os direitos humanos. Não se pode encostar à parede uma rua inteira para identificar, com parcos resultados, como verificámos depois”, disse, com referência às duas detenções, e à apreensão de cerca de 4 mil euros, de 581,37 gramas de droga que se suspeita ser haxixe, de uma arma branca e um telemóvel que constava como furtado.
“É uma operação policial que pode ser facilmente confundível com um ato racista ou xenófobo - toda a gente sabe que aqui vivem comunidades do subcontinente indiano”, continuou Miguel Coelho.
Os problemas da freguesia, na zona do Martim Moniz, não estão relacionados com nenhuma comunidade étnica ou racial. “Nós temos neste território problemas de insegurança relacionados com a droga, onde infelizmente estão envolvidas todas as etnias, a começar pela nossa própria e, se calhar, maioritariamente”, declarou, continuando a dizer que a comunidade do Hindustão está bem integrada, que é "pacífica" e que a junta não tem registo de quaisquer "conflitos raciais, étnicos e religiosos". Problemas há, como a falta de iluminação, continuou.
“Este género [de operações] é apenas para o show off, fomentam o ódio”, continuou o socialista, dizendo que há uma “inaceitável” “instrumentalização da polícia”. Os sindicatos consideram normal o que aconteceu na Rua do Benformoso, com dezenas de pessoas alinhadas contra a parede por estarem ali na rua.