O PS vai solicitar na conferência de líderes e na Comissão de Transparência um repúdio do Parlamento às declarações de André Ventura sobre o antigo presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.
Numa interpelação no arranque da reunião plenária, o deputado socialista Pedro Delgado Alves disse que "certos casos, obviamente, não podem passar sem reparo, sem repúdio" e informou que o PS solicitará "na conferência de líderes e na Comissão da Transparência que se insista e que se repudie as declarações da passada semana, do deputado André Ventura, relativamente a um antigo presidente" do Parlamento.
O vice-presidente da bancada do PS considerou que o líder do Chega insiste "na mentira, na difamação de servidores públicos toda a vida, de lutadores pela democracia, construtores da democracia".
"Se pessoas como Ferro Rodrigues não têm defesa por este Parlamento, todos os cidadãos em Portugal podem sentir que não são defendidos por ninguém quando atacados de forma vil e soez", defendeu Pedro Delgado Alves.
O socialista considerou que a Assembleia da República se depara atualmente "com um problema que não teve durante 50 anos em democracia" e tem "de lidar" com o "discurso injurioso no plenário, nos corredores, nas publicações oficiais, visando deputados, a instituição e terceiros".
Resposta de Ventura não tardou…
Na resposta, André Ventura voltou a repetir que o antigo presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues "foi protegido e protegeu o crime em Portugal". O líder do Chega disse não ter "medo de o dizer" e que não deixará "isso passar em claro".
"É o que eu sinto como deputado e penso que tenho direito a dizê-lo na mesma democracia que o PS construiu nestes últimos anos", afirmou.
A lição dada pelo ‘vice’ Rodrigo Saraiva
Depois, o vice-presidente da Assembleia da República, Rodrigo Saraiva (IL), que conduzia aos trabalhos na altura, afirmou que este "será um tema a ser abordado" na conferência de líderes, assinalando que haverá "muito para falar" nessa altura, e referiu que os partidos podem propor o "aprofundamento de legislação ou dos regimentos em vigor".
O deputado da IL lembrou também um texto que disse ter escrito há nove anos, sobre um debate quinzenal, em que existiu "ataque aos adversários", com "um excesso de estereótipos e adjetivações entre lados de barricadas".
"Há temas que são novos, há temas que não são novos. A todo momento acho que qualquer um dos 230 deputados tem que fazer o esforço para dignificar a democracia, para que os cidadãos não se afastem da democracia", defendeu o presidente em exercício.
“Calúnia” e “cobardia”
Na semana passada, o antigo secretário-geral socialista Ferro Rodrigues acusou André Ventura de calúnia e cobardia ao mencionar o seu nome quando procurou justificar o caso do "vice" do Chega/Lisboa Nuno Pardal, acusado de crimes de prostituição de menores.
Em declarações aos jornalistas, após se saber que Nuno Pardal Ribeiro fora acusado pelo Ministério Público de dois crimes de prostituição de menores, o presidente do Chega declarou que "outros" protegeram no passado Ferro Rodrigues e o antigo porta-voz do PS Paulo Pedroso.
Numa nota enviada à agência Lusa, Ferro Rodrigues afirmou que a referência ao seu nome se tratou de "uma demonstração de cobardia pessoal" e "do desespero partidário em que a lama que levantou atinge severamente alguns dos seus".
"Irei proceder de modo a que corra mal aos extremistas estes processos de difamação e miséria politica. Em tempo útil. Não procedendo como ele [André Ventura] pretende, mas sim como me parecer mais eficaz", acrescentou.