
A União Democrata-Cristã (CDU, centro-direita) e o Partido Social-Democrata (SPD, centro-esquerda) já estão em conversações para formarem o próximo Governo da Alemanha. Apesar de terem vencido as eleições legislativas de dia 23, os conservadores só conseguiram obter 28,6% dos votos e eleger 208 deputados, juntamente com o partido “irmão” na Baviera, a União Social-Cristã (CSU).
Por terem ficado longe dos 316 assentos necessários para a maioria absoluta no Bundestag (o Parlamento alemão), o bloco CDU/CSU precisa de um parceiro para formar Governo. E tudo indica que esse parceiro é o SPD, que teve o pior resultado em 161 anos de história. A força política do chanceler cessante Olaf Scholz ficou em terceiro lugar, com 16,4% dos votos e 120 deputados eleitos.
“Em termos artiméticos, tudo aponta para uma coligação com esta configuração”, diz Patrícia Daehnhardt, investigadora no Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa. Até porque “dois partidos que tinham representação parlamentar, nomeadamente os Liberais (FDP) e a Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) não conseguiram entrar no Bundestag”, o Parlamento alemão, por não terem alcançado o limiar dos “5% de votos que estão constitucionalmente definidos”, acrescenta.
Quem também queria fazer parte desta coligação é a Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema-direita liderado por Alice Weidel que ficou em segundo lugar e obteve 152 assentos no Bundestag (mais 69 do que os que conseguiu nas últimas legislativas). Weidel afirmou que 10,3 milhões de eleitores “não podem ser ignorados” e defendeu o fim do cordão sanitário ao partido. No entanto, os conservadores já excluíram várias vezes a hipótese de a AfD se juntar a eles.
“Uma coisa é certa: tanto para a CDU como para o SPD vai haver uma pressão enorme por parte da Alternativa para a Alemanha e, nesse sentido, os dois partidos têm que, um por lado, trabalhar em conjunto e colaborar, mas por outro lado, têm de manter as suas próprias identidades partidárias”, refere Daehnhardt. Ficando fora da coligação central, liderada pelo futuro chanceler conservador Friedrich Merz, a extrema-direita vai ser a principal força da oposição.
São “três” os grandes desafios que o novo Governo vai enfrentar, analisa ainda a investigadora de relações internacionais. “Em primeiro lugar, a economia — a Alemanha está a entrar no terceiro ano de recessão económica e precisa de recuperar”. O “segundo ponto é a migração, que foi muito debatido na campanha eleitoral, até decorrente de um conjunto de incidentes e de atentados levados a cabo por migrantes que já estavam em vias de serem repatriados”, continua.
Por último, o terceiro ponto prende-se com o contexto de segurança e defesa na Europa. “Em termos de política externa, mas também com reflexos na política interna, vai ter de haver um maior investimento na área da defesa, no orçamento militar”, sobretudo numa altura em que o Presidente norte-americano Donald Trump ameaça a estabilidade europeia e aproxima-se da Rússia, que continua a sua agressão militar na Ucrânia.
Este episódio foi conduzido pela jornalista Mara Tribuna, contou com o apoio à gravação de Tomás Delfim e com a edição técnica de João Martins. O Mundo a Seus Pés é o podcast semanal da editoria Internacional do Expresso. A condução do debate é rotativa entre os jornalistas Ana França, Hélder Gomes, Mara Tribuna e Pedro Cordeiro. Subscreva e ouça mais episódios.