
Rita Mendes Coelho é o que pode definir como uma escolha disruptiva para a Visa Portugal. Tem 35 anos, cinco filhos no currículo (entre os quais trigémeos) e a sua formação de base não é no setor financeiro, mas em Arquitetura. No final do ano passado a Visa escolheu-a para suceder a Gonçalo Santos Lopes, na direção-geral da subsidiária portuguesa.
A nova diretora-geral reconhece que “há sempre desafios de credibilidade quando se é jovem num cargo de liderança” e que “temos de provar mais”. Sublinhando que questões sobre “como é que esta pessoa chegou aqui tão cedo, será que tem as competências certas e a maturidade profissional necessárias ao cargo, são naturais”, vinca, com a frontalidade de quem está habituada a enfrentar desafios e ajustar a rota, que “não há razão para eu achar que não tenho o direito de estar aqui”. Porque, como realça, "trabalhei para aqui chegar".
A sua ligação à arte é antiga. Rita Mendes Coelho pinta desde os seis anos de idade e muito jovem começou a ter aulas de pintura. No momento de escolher o seu percurso de formação, nada mais natural que pendesse para áreas mais criativas. Licenciou-se em Arquitetura e ainda estudante começou a trabalhar num ateliê. “Deu-me a experiência necessária para perceber que não ero o que queria para o meu futuro”, recorda.
Quando concluiu o curso, decidiu-se pela mudança. Candidatou-se ao mestrado de Gestão de Empresas, na Universidade Católica e dai saltou para o mundo das Finanças. Um redirecionamento de carreira que não foi fácil. “Lembro-me perfeitamente de ir a uma ou outra entrevista de emprego e questionarem o que é que uma arquiteta procurava numa carreira na área financeira”, recorda.
Muitas vezes, foi forçada a dar exemplos: “dizia que no Reino Unido esta transição era perfeitamente normal e que a Goldman Sachs, por exemplo, tinha um historiador a fazer fusões e aquisições”. Rita perdeu a conta às vezes que teve de “justificar” a sua opção e provar o seu valor. Mas seguiu caminho. Passou pela PwC, pelo Millennium BCP e pelo BNP Paribas, sempre na área de fusões e aquisições, até chegar em 2021, à Visa Portugal.
Pelo caminho, constituiu a família alargada com que sonhou. É mãe de cinco filhos e garante esta opção nunca foi um entrave à sua progressão. “O facto de ser mulher, ser nova e ter uma família grande, nunca me impediu de chegar onde eu estou agora”, diz, reconhecendo, porém, que é “claramente uma privilegiada”. Compatibilizar a vida pessoal e profissional exige muito planeamento. Para aqui chegar, aponta, "foi preciso uma rede de suporte em casa muito forte, contar com toda a minha família - cunhadas, pais, sogros -, que ajudem nos momentos que é preciso. E, no trabalho, contar com equipas excecionais".
E no que toca a carreira e família, a diretora-geral da Visa Portugal, defende mesmo que "é preciso desmistificar muita coisa: o facto de eu ter filhos não quer dizer que eu não trabalhe, que a minha produtividade não seja o dobro do que o resto das pessoas, ou que não esteja muito mais comprometida com a causa e com a empresa".
O CEO é o limite é o podcast de liderança e carreira do Expresso. Todas as semanas a jornalista Cátia Mateus mostra-lhe quem são, como começaram e o que fizeram para chegar ao topo os gestores portugueses que marcaram o passado, os que dirigem a atualidade e os que prometem moldar o futuro. Histórias inspiradoras, contadas na primeira pessoa, por quem ousa fazer acontecer. Ouça outros episódios: