
Contundentes nas críticas à falta de explicações do primeiro-ministro sobre a empresa familiar Spinumviva, os liberais surpreenderam há cinco dias com o anúncio do voto a favor da moção de confiança do Governo. A conjuntura nacional e internacional serviu de pretexto a Rui Rocha, que alegou que o sentido de voto corresponde à “defesa dos superiores interesses dos portugueses”, que ao contrário dos restantes partidos não coloca acima os “interesses partidários”, não querendo forçar o país a eleições antecipadas.
Esta terça-feira, o líder da Iniciativa Liberal (IL) repetiu os fundamentos e carregou no tom das críticas no Parlamento, da esquerda à direita, já em modo pré-campanha. Já no final do dia, reiterou o ‘não’ a uma coligação pré-eleitoral com a AD, garantiu, contudo que o partido está disponível para uma solução para o 'day-after: a narrativa já está montada para campanha.
“Os portugueses não querem eleições, querem explicações”, disse perentório Rui Rocha durante a sua primeira intervenção no debate da moção de confiança, acusando os partidos de “mergulharem o país numa crise política" que os portugueses não compreendem.
Começando pelo principal responsável, Luís Montenegro, não voltou a poupar o primeiro-ministro às críticas, considerando que o chefe do Governo “falhou” ao ter respondido pela “metade” a todas as questões suscitadas e ao não aceitar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do PS a sua empresa familiar.“O primeiro-ministro falhou quando permitiu a contaminação dos problemas de Luís Montenegro para a função de primeiro-ministro e depois com o Governo. O Governo falhou com a insistência de uma moção de confiança que poderá ter este desfecho ", vincou. E lamentou que Montenegro não tenha seguido os seus três conselhos, que passavam por pedir desculpa aos portugueses, esclarecer todas as dúvidas e encerrar a empresa familiar, colocando um ponto final na polémica.
Virando-se para os outros partidos, Rocha criticou, por sua vez, os líderes que entenderam que ganhavam com “jogos palacianos” e “agendas egoístas", isentando-se de responsabilidades pela criação de uma ”enorme crise política", “imputando responsabilidades a terceiros ou vitimizando-se. Mais: apontou ”total ausência de sentido de Estado" e “responsabilidade” ao PS, Chega, PCP, Bloco, PAN e Livre. “Esse é um erro que os portugueses não perdoarão”, dramatizou.
De olho no Chega, partido ao qual a IL apontou o objetivo de roubar eleitorado desde as eleições europeias, Rocha deixou também indiretamente farpas ao partido de André Ventura que “sabem que o caos é a melhor forma de disfarçar a situação caótica dentro da própria casa”, referindo-se às polémicas e escândalos que envolvem o partido à sua direita.
Mais: apontando para as sondagens mais recentes que indicam crescimento nas intenções da IL, o presidente dos liberais considerou que poderá até ser o partido que sairia “mais beneficiado” com o sufrágio, mas este é um “péssimo momento” para envolver o país numa crise política. Lendo nas entrelinhas, o líder da IL cola, assim, o rótulo da "responsabilidade" e "credibilidade" ao partido e espera lucrar com isso nas urnas.
IL avalia acordo de incidência parlamentar
Ao contrário dos outros partidos, a IL escusou-se a fazer declarações no Parlamento logo após o chumbo da moção de confiança. Mas, antecipando algumas das questões dos jornalistas, divulgou um comunicado, garantindo que “não irá integrar nenhuma coligação pré-eleitoral” às eleições legislativas. “Como sempre, a IL apresentar-se-á com os seus candidatos, com as suas propostas e com as suas bandeiras, essenciais para que Portugal possa crescer e mudar para maior prosperidade”, podia ler-se na nota.
A estratégia de a IL correr em pista própria mantém-se, apesar das pressões da AD e de Paulo Portas ter sugerido mesmo no domingo que seria importante a coligação integrar os liberais. Quase à mesma hora do comunicado, Rocha repetia a ideia, em entrevista à SIC Notícias: “A IL vai crescer, é a minha convicção. Nós queremos crescer eleitoralmente e com esse peso eleitoral acrescido influenciar com mais força o país”, assumiu.
Defendeu que o voto na IL será a garantia de uma “solução confiável” e “competente” na governabilidade, de olho num entendimento pós-eleitoral com a AD. E já adiantou os moldes desse entendimento, afirmando que a sua predisposição hoje é que a IL possa negociar um acordo de incidência parlamentar com a AD, caso volte a vencer as eleições. Mas tem que ser “mais ambiciosa” e “exigente”, avisou.
Há exatamente um ano, esse cenário esteve também em cima da mesa. Na altura, Rocha garantia que o partido estava “preparado para ir para o Governo”, mas também aceitava analisar outras hipóteses, como um acordo de incidência parlamentar, o “que for mais adequado para a essa transformação" que o país precisava. Agora, não rejeitando a primeira alternativa, face aos últimos desenvolvimentos, mostra-se mais cauteloso e para já assume a vontade de firmar um acordo de incidência parlamentar.
“Estou pronto para depois das eleições assegurar uma solução. Usaremos a nossa força eleitoral para implementar uma mudança séria”, salientou, acrescentando que é preciso “acelerar” o país, nomeadamente face ao contexto internacional
E apontou já alguns temas de campanha: Defesa, Habitação, Saúde e reforma do Estado: “O mundo está a mudar muito. Será preciso fazer escolhas difíceis, nomeadamente na Defesa”, exemplificou, assegurando ainda que o partido recusará uma campanha de “ataques pessoais”, preferindo uma campanha pela "positiva" .
Questionado sobre se tem preferência pelo dia 11 ou 18 para as eleições legislativa,. Rocha considerou que o país precisa de uma solução política “o mais cedo possível”. “Rapidamente temos que encerrar isto”, concluiu. Será esta a mensagem que levará na quarta-feira a Belém, na audiência com o Presidente da República.