
Pedro Sánchez vai ao plenário do Congresso dos Deputados depois de ter estado nas últimas semanas nas reuniões de líderes europeus e da NATO sobre a questão da defesa e da segurança da Europa e do apoio à Ucrânia e de ter feito uma ronda de reuniões com os partidos representados no parlamento, incluindo com o Somar, uma plataforma de esquerda que faz parte da coligação que está no Governo espanhol, mas que tem mostrado reticências em relação ao aumento da despesa com a defesa.
Espanha destinou 1,28% do produto interno bruto (PIB) à defesa em 2023, a taxa mais baixa dos membros da NATO (a aliança de segurança e defesa de países europeus e da América do Norte).
Segundo analistas, apesar dos incrementos na despesa com a defesa nos últimos anos, o crescimento da economia espanhola acima da média europeia tem tornado esses 2% num esforço maior.
Por outro lado, Espanha partiu de uma base muito baixa (menos de 1% há sete anos) para alcançar o objetivo com que se comprometeram os países da NATO e, além disso, está há dois anos sem Orçamento do Estado novo, pela necessidade de o Governo, minoritário, ter de negociar com uma 'geringonça' de oito partidos de orientações diferentes.
Sem orçamento novo, os tetos de despesa mantêm-se há dois anos, dificultando a execução de alguns fundos ou mudanças nos gastos setoriais.
Espanha é, além disso, governada desde 2018 por uma coligação de esquerda formada pelo Partido Socialista (PSOE, de Pedro Sánchez) e a plataforma Somar (antes Unidas Podemos), que integra formações diversas, incluindo algumas que são contra o aumento dos gastos com a Defesa.
Sánchez tem reiterado, nas últimas semanas, que Espanha "está preparada" para aumentar os orçamentos com defesa até aos 2% do PIB e admitiu alcançar esse objetivo antes de 2029, o prazo acordado com a NATO.
O líder do Governo espanhol defendeu o aumento desses gastos, em linha também com o que propõe a Comissão Europeia, face à ameaça que representa a Rússia (que atacou e invadiu militarmente a Ucrânia em fevereiro de 2022) e às mudanças na ordem mundial (como os novos posicionamentos do Governo dos EUA liderado por Donald Trump), afirmando que a Europa tem de ser mais autónoma em matéria militar e de segurança.
Nas diversas intervenções públicas que tem feito, tem insistido em que "é obviamente importante falar em defesa, mas é sobretudo importante falar em segurança, um conceito muito mais amplo" e afirmou que não gosta do termo "rearmamento", que está a ser usado no seio da União Europeia (UE).
Para o líder do Governo espanhol, é necessário "não apenas gastar mais, mas gastar melhor e gastar juntos" no quadro da UE e "à escala europeia", e considerou que aumentar estes orçamentos deve servir para "criar tecnologia, criar indústria, criar economia na Europa".
Num discurso destinado ao Somar, mas também ao resto da 'geringonça' parlamentar e a outros partidos da oposição, que já lhe pediram para deixar de usar "eufemismos", Sánchez tem ainda garantido que não cortará "nem um cêntimo" nas políticas sociais por causa do aumento de gastos com a defesa.
"O aumento dos gastos em defesa dos Estados-membros de forma individual não garante a superação dos problemas de coordenação e de falta de interoperabilidade das Forças Armadas dos diferentes países da UE. Não garante uma maior autonomia estratégica nem maiores quotas de segurança partilhada", defendeu o Somar, num comunicado recente em que definiu também a "segurança europeia" como um conceito que vai além das questões estritas da defesa ou militares, considerando que implica "coesão social", luta contra as alterações climáticas ou combate à pobreza.
Já o Partido Popular (PP, direita), que lidera a oposição, não se opõe ao aumento, mas mantém um discurso crítico em relação à forma como os socialistas estão a gerir o dossiê e exploram a falta de acordo dentro da 'geringonça' e dentro do próprio executivo.
O PP tem insistido, sobretudo, em que qualquer aumento de despesa com a defesa deve passar pelo parlamento.
Além de ter estado nas reuniões de líderes europeus das últimas semanas, como as promovidas por Londres e Paris, para debater a segurança da Europa, Sánchez tem sido dos chefes de Governo europeus mais contundentes, no discurso público, na defesa do apoio à Ucrânia e nas críticas a Trump.
MP // EJ
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