
O Presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, e Inês de Sousa Real, do PAN, discordam em quase tudo: no modelo de saúde a aplicar no país, nos impostos, no clima e na habitação. O combate à violência sexual é o único ponto em que concordam. No debate na SIC Notícias, Rui Rocha critica ainda Inês Sousa Real por ainda não ter apresentado o programa eleitoral, mas a porta-voz do PAN considera que a critica não é "minimamente séria".
Modelo de saúde: IL aponta para profissionais com "mérito", PAN afasta "meritocracias"
Rui Rocha defende que o problema no Serviço Nacional de Saúde (SNS) é "grande", com urgências permanentemente fechadas. Diz que o aumento dos salários dos profissionais de saúde deve ser "indexado à produtividade e ao mérito" e não indiscriminado, como defende o PAN.
No debate na SIC Notícias, o líder da IL defende que, após "vários remendos no SNS", mantêm-se as "grandes listas de espera", a falta de médicos de família e as urgências a fechar e, por isso, é preciso mudar, com os "portugueses no centro da solução".
O partido quer que seja criado um novo modelo dê aos portugueses a "possibilidade de escolher" o prestador de serviço que desejam: público, privado ou social.
A proposta é criticada pela líder do PAN, Inês Sousa Real, que considera que o "modelo faliu" em países liberais, como a Argentina ou países do norte da Europa.
"Esta ideia da IL de um Estado tão pequeno, mas tão pequeno que cabe no bolso, esquece que o bolso dos portugueses não é igual para toda a gente ao final do mês", argumenta.
Diz ainda que os recursos estão a ser canalizados para o privado e não para as famílias mais pobres". "Não podemos estar aqui assentes nas meritocracias."
Em resposta a Inês Sousa Real, o presidente da Iniciativa Liberal argumenta que as soluções do partido "estão testadas em países como a Alemanha ou a Holanda". O SNS português é inspirado no britânico, que está também a enfrentar grandes dificuldades, aponta.
Para Rui Rocha, "o que faz sentido" é permitir que toda a capacidade instalada possa dar resposta. Nesse sentido, defende que a proposta da IL vem aumentar a oferta.
"As pessoas têm mais escolha, nunca ficam prejudicadas. O que é desigual é ter em Portugal pessoas com poucos recursos à espera de hospitais, de urgências fechadas (...). Os partidos em geral, todos, à exceção da Iniciativa Liberal, entendem que as pessoas têm de passar pelo sofrimento de esperar pelo SNS", defende.
Na resposta, a porta-voz do PAN lembra que houve três diretores executivos do SNS e uma "crise política" que tem atrasado a mudança no modelo de gestão do SNS e "não na sua privatização".
"A gestão tem de ser eficaz e eficiente dos recursos, mas isso implica não perdermos nem desperdiçarmos recursos onde eles não existem."
A líder do PAN defende que é preciso "prevenir mais" em relação à saúde animal e ambiental, bandeiras do partido, com políticas de melhor alimentação e melhor qualidade de vida. Em relação à saúde animal, critica a IL por "não acompanhar" o PAN.
Rocha critica PAN por ainda não ter apresentado programa eleitoral
O presidente da IL diz ter "dificuldade em discutir" com Inês Sousa Real por não ter acesso ao programa do PAN. "Gostamos de concorrência leal e parece-me concorrência desleal. Eu tenho o programa apresentado, com as contas feitas, rigorosas, o caminho claro", atira.
"Não há um conhecimento meu nem dos portugueses em relação ao programa do PAN."
Sousa Real responde: considera que o comentário "não é minimamente sério", uma vez que se tratam de eleições antecipadas "com base num programa de 2024".
Impostos
Noutro tema, os impostos, o líder da IL diz ter "dificuldade em perceber" a proposta do PAN sobre IRC, uma vez que em alguns debates parece ser seletiva e noutros não.
O liberal defende a diminuição dos imposto em todas as linhas, do IRC ao IRS, que diz que vai ser "compensada, em parte, pela ativação da atividade económica". Propõe também a redução da despesa do Estado em 1% ao ano nos próximos quatro anos.
Inês Sousa Real esclarece que o PAN defende a descida do IRC para 17%, mas de "forma gradual" até ao final da legislatura.
Em contrapartida, diz que proposta da IL da criação de apenas dois escalões "viola o princípio da progressividade" e beneficia quem mais recebem.
"Divergimos efetivamente na progressividade dos escalões", diz, contudo, recorda que foi o PAN que introduziu a revisão dos escalões de IRS de forma a ser mais justo para as famílias.
A porta-voz do PAN critica a IL por se "gabar em querer baixar os impostos" e não votar a favor de propostas, como o baixa do IVA para alimentação de animais de companhia, o cabaz alimentar para os bens alimentares e os passes gratuitos às famílias.
Rui Rocha diz que a proposta da IL sobre política fiscal é "progressiva".
"Cada um aspira à progressão que entende", diz, quando Inês Sousa Real nota que são apenas dois escalões.
O líder liberal diz ainda que "era o que faltava" que não fossem atualizados à medida da inflação.
Habitação
Rui Rocha acusa o PAN de só ter propostas para a habitação por "via da subsidiação ou da habitação pública".
"Sim, os jovens portugueses precisam de casa, há muitas pessoas que querem sair de casa dos pais e não podem, há muitas famílias que crescem e não têm lugar para os filhos, há profissionais que recusam propostas de emprego porque não podem deslocar-se. Há até pessoas separadas que continuam a viver juntas", afirma.
Inês de Sousa Real contrapõe e lembra propostas do PAN para "oferecer mais casas aos portugueses":
"Foi pela mão do PAN que conseguimos aumentar a isenção do IMI de três para cinco anos. Foi o PAN, por exemplo, que propôs medidas como o Porta 65 para que vítimas de violência doméstica pudessem ter também acesso à habitação. Também no âmbito da crise propôs medidas de apoios aos senhorios."
Combate à violência sexual, o único ponto de convergência
O líder da IL declara que "não há liberdade sem segurança" e que, por isso, é preciso ter "política presente" e de políticas adequada. Quantos mais dados sobre a criminalidade houver, melhor, defende.
Rui Rocha quer que funções burocráticas dos polícias sejam feitas por técnicos administrativos para que haja "mais polícias disponíveis". Pede também equipamento não letal para os polícias, para que "não haja tragédias".
Sousa Real critica a "tendência de direita" de ir "atrás do Chega" no que toca à segurança. Para a líder do PAN, há um grave problema de violência sexual, doméstica e de género, que, na sua ótica, devia ser a "prioridade" de todos os partidos.
Na mesma linha liberal admite preocupação, "para não dizer chocado", com as recentes notícias de violência crescente sobre mulheres. O líder da IL diz que a escola tem de trazer ferramentas concretas e envolver toda a sociedade.
Em relação ao crime de violação ser público, apoia que essa discussão seja tida.
Energia nuclear
A Iniciativa Liberal defende o princípio da neutralidade tecnológica, assume Rui Rocha. Não é contra a energia nuclear, embora tenha dúvidas sobre se esta é viável economicamente em Portugal.
Rocha entende que a UE precisa de uma fonte de energia estável que seja complementada com fontes de energias renováveis. Assinala ainda que "a posição avessa à energia nuclear teve consequências dramáticas na Alemanha", que "hoje está dependente do carvão, que é muito pior".
Sousa Real critica a Iniciativa Liberal por ter votado contra a lei de bases do clima.
No que diz respeito à energia nuclear, a líder do PAN lembra que Portugal tem uma "escassez de água brutal". Para uma "política coerente" na transição climática é preciso executar os mais de 429 milhões de euros do PRR, defende.
"Uma economia de futuro em Portugal só pode ser uma economia verde (...). Se queremos que Portugal possa ter um futuro e um lugar na Europa neste ponto de vista temos de proteger os valores ambientais e a biodiversidade e travar este declínio", remata.