A Tomada de posse do novo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anuncia um virar de página na história dos Estados Unidos, a página seguinte terá impacto em todo o Ocidente, um momento de mudança no chamado “mundo livre”.

É uma reeleição com intervalo de 4 anos, mas pelo que tem sido anunciado, pelas escolhas que tem feito para a Administração, pelas opções assumidas em política internacional, tudo faz acreditar que o próximo mandato nada terá de semelhante com o mandato de 2017/2021.

A América, vista pela Europa e pelos europeus, sempre foi a terra da liberdade, o país da justiça, do mérito e da superação. Foi esta América que esteve presente, do lado certo, na grande guerra, que se aliou aos que se defendiam do invasor, que não cedeu enquanto o prevaricador não foi castigado. Foi esta América que mostrou ao mundo que as tiranias teriam sempre castigo.

Em todos os conflitos que se envolveu, foi com o propósito de levar a justiça e a liberdade onde ela estava ameaçada. Nem sempre correu bem, cometeu alguns erros de percepção, sendo o mais gritante a guerra no Iraque, mas o propósito sempre foi nobre.

Pela primeira vez, na memória dos vivos, a América parece que admite premiar o prevaricador. Aceitar que a Rússia, que invadiu, matou e destruiu a Ucrânia, receba o prémio de ficar com território ucraniano. Pela primeira vez, a América parece aceitar que as tiranias se sobreponham às democracias, pela primeira vez a América admite conquistar território de outros países pela força das armas.

O mundo ocidental viveu um longo período de paz porque tinha tirado uma grande lição da segunda grande guerra: A guerra não faz vitoriosos, ganha quem perde menos.

Foi esta lição que deu origem ao império da Lei, onde a “pena” é mais forte que a “espada”.

A grande aliança atlântica foi muito mais que uma aliança militar, foi uma aliança de valores, de princípios e de códigos de ética.

Quebrar esta aliança é entrar num portal que nos leva para um enorme desconhecido, mas com grandes semelhanças com um passado onde estão registadas as nossas piores memórias.

Mais sombrios se afiguram os próximos tempos se atendermos às alianças que se perspectivam. Aliança entre Donald Trump e Xi Jiping, entre Xi Jiping e Putin, entre Putin e Kim Jong-un. São aliança negativas, alianças que não visam o bem comum, mas antes uma convergência dos egoísmos individuais.

São alianças que não respeitam nada para além da força, são alianças que colocam todo o mundo num enorme sobressalto. O sobressalto da falência do império da lei. Nas cinzas da Lei espreitam novos e grandes conflitos.

O prémio que a Rússia receber, com a invasão da Ucrânia, encorajará a China a conquistar Taiwan. Será um conflito desigual, serão mil e quinhentos milhões contra cinquenta milhões, será a ditadura comunista chinesa a sobrepor-se à democracia liberal e próspera de Taiwan.

A Rússia não irá parar os seus ímpetos imperialistas, uma vitória na Ucrânia será um catalisador para invadir e conquistar todas as repúblicas da antiga União Soviética e, se for bem-sucedida, não parará enquanto a Europa não a derrotar.

A Coreia do Norte, esse exemplo de tirania obscurantista, sentirá que estão reunidas as condições perfeitas para avançar sobre a Coreia do Sul. Sem a ameaça americana, a Coreia do Norte não se inibirá de usar armamento nuclear.

Em África, onde a maioria das fronteiras são frágeis e os Estados não correspondem a Nações, também se fará sentir, com estrondo, a tentação dos mais fortes conquistarem os mais fracos.

Serão tempos de retrocesso, muito desafiantes para a europa e para todos os países europeus. Não sabemos, nem admitimos viver sem liberdade, mas vamos ter de lutar por ela. O que julgávamos conquistado será desafiado, dos aliados de sempre há um que anuncia estar ausente e da quebra da velha aliança terá de resultar um reforço da que restar.

O hino português nunca ganhou tanta actualidade, “às armas, às armas…”. A velha Europa terá de se reinventar numa nova europa, com uma indústria militar própria e pujante.