
Imagens de satélite mostram que o solo de Marte tem padrões geométricos semelhantes aos observados em zonas frias da Terra, sugerindo que os dois planetas partilham processos de evolução.
As formas onduladas observadas em crateras de Marte têm uma semelhança surpreendente com os padrões de ondas encontrados em regiões frias e montanhosas da Terra, como o Ártico e as Montanhas Rochosas.
A descoberta, feita por cientistas da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, foi publicada na revista Icarus e divulgada pela agência Europa Press.
Apesar das diferenças entre os dois planetas, esta semelhança sugere que Marte e a Terra podem ter sido moldados por algumas das mesmas forças e processos naturais ligados ao frio.
O que mostram as imagens
A equipa analisou imagens de satélite de alta resolução de nove crateras marcianas. Ao comparar estas imagens com estruturas semelhantes da Terra, os investigadores encontraram padrões geométricos idênticos aos dos chamados lóbulos de solifluxão — formas do relevo que se formam em encostas geladas quando o solo congela e descongela de forma repetida.
Segundo o investigador Alexander Sleiman Glade, estes padrões são “exemplos grandes, granulares e lentos de padrões comuns encontrados em fluidos do dia-a-dia, como tinta a escorrer por uma parede”.
Apesar das semelhanças, há uma diferença marcante: os lóbulos desolifluxão marcianos são, em média, 2,6 vezes mais altos do que os da Terra.
De acordo com os autores do estudo, isso deve-se à menor gravidade de Marte e às propriedades do solo, que permitem que estas estruturas cresçam mais antes de colapsarem.
Congelar e descongelar… sem água líquida
Na Terra, os lóbulos de soliflução formam-se quando o solo congela e descongela parcialmente, o que permite que este deslize lentamente pela encosta.
No caso de Marte, os cientistas sugerem que pode ter ocorrido um processo semelhante, mas não por ação de água líquida - e sim por sublimação, em que o gelo passa diretamente ao estado gasoso.
Pistas sobre o passado climático de Marte
Esta descoberta pode fornecer pistas valiosas sobre o passado climático de Marte e sobre ambientes que poderão ter sido habitáveis.
Ao revelarem que o planeta pode ter passado por ciclos térmicos que moldaram o seu relevo, os cientistas abrem caminho para novas hipóteses sobre a presença de água e a possível existência de vida.
“Compreender como estes padrões se formam fornece informações importantes sobre a história climática de Marte, especialmente a possibilidade de ciclos passados de congelamento e descongelamento”, afirmou Sleiman Glade.
Serão necessárias mais pesquisas para determinar se estas características se formaram recentemente ou há muito tempo.
“Em última análise, esta investigação pode ajudar-nos a identificar pistas sobre ambientes passados ou presentes noutros planetas que possam sustentar — ou limitar — a vida".