"Foi um momento especial: pintar Eusébio no lugar onde ele nasceu", explicou à Lusa Brian Diegues (Glac¸on), de 28 anos, minutos após dar os "últimos toques" ao mural no meio da Mafalala, histórico bairro periférico na capital moçambicana.

A nova pintura de Eusébio está mesmo no "campinho da Mafalala", local onde a lenda descobriu a sua paixão pelo futebol.

Para muitos, este espaço, a poucos metros do Museu Mafalala, é o coração de um bairro periférico com importância histórica em Maputo.

São becos e ruelas que separam casas de construção precária que carregam o peso de ter albergado personalidades que levaram o nome de Moçambique para o mundo, entre os quais escritores como José Craveirinha e Noémia de Sousa, além do próprio Eusébio, um ícone do futebol.

São cerca de 20 mil pessoas de quase todo o país que partilham diariamente o bairro de uma urbanização informal à base de zinco, mas que para muitos foi o "centro da resistência cultural" à administração colonial portuguesa em Maputo.

"Eu queria pintar mesmo neste bairro, sem saber ainda que se chamava Mafalala. Então, ainda em Paris, preparei uma pintura (...) e vim com material adequado para pintar o Eusébio", explica o artista.

No novo mural, Eusébio ostenta a camisola do Benfica, o seu "clube de coração" e do qual Glac¸on é também adepto por "hereditariedade".

"O meu pai é que me deu o Benfica como clube (...). Eu sou benfiquista e, sendo benfiquista, não podia esquecer a história do Eusébio no Benfica", explica o artista, que chegou a trabalhar como guia no Estádio da Luz durante um período em que viveu em Portugal. 

"Vivi e cresci em Paris, mas decidi abandonar a minha vida parisiense para trabalhar no Estádio [do] Sport Lisboa e Benfica (...). Trabalhei por mais de um ano como guia", acrescentou.

De pai português, já falecido, nascido em território moçambicano antes da independência, a relação de Glac¸on com Moçambique e Portugal é "emocional".

"É sempre difícil falar de alguém que nasceu em Moçambique antes do dia 25 de junho de 1975. Eu sempre considerei meu pai português, mas, porque nasceu em Moçambique, também o considerei sempre moçambicano", acrescentou.

É esta ligação que dá Glac¸on a ambição de voltar ao país africano para dar cor a outros murais, realçando a importância de outras figuras históricas do país, incluindo Mário Coluna, outra referência no futebol português nascida em Moçambique.

"Eu gosto de contar histórias e então Samora Machel [primeiro Presidente de Moçambique], Eduardo Mondlane [fundador da Frente de Libertação de Moçambique] e Mário Coluna são as minhas próximas metas", declarou.

Para muitos um símbolo do desporto português, campeão nacional pelo Benfica 11 vezes e vencedor da Taça dos Campeões em 1962, Eusébio da Silva Ferreira morreu em 05 de janeiro de 2014, com 71 anos.

Eusébio ganhou em 1965 a Bola de Ouro, que então distinguia o melhor futebolista europeu a jogar na Europa, e conquistou duas vezes a Bota de Ouro (1967/68 e 1972/73), prémio para o melhor marcador dos campeonatos nacionais europeus.

No Mundial de 1966, disputado em Inglaterra, foi um dos mais destacados jogadores da competição e o melhor marcador, contribuindo com nove golos para o terceiro lugar de Portugal.

*** Estêvão Chavisso (texto), Fernando Cumaio (vídeo) e Luisa Nhantumbo (fotos), da agência Lusa ***

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