
Que perguntas gostaria de fazer aos líderes dos partidos com representação parlamentar que vão a votos no domingo? O SAPO abriu via aos seus leitores para colocar dúvidas e questões aos que concorrem por representação no Parlamento neste domingo e encaminhou as suas preocupações aos partidos.
De uma seleção de 37 perguntas colocadas ao Bloco de Esquerda, maioritariamente tocando temas de Habitação, Imigração e integração social, mas também sobre a forma como são eleitos os deputados e como representam na Assembleia da República a ideologia que marca o BE e como pretendem cumprir o Programa de Governo que apresentam às Legislativas de 2025, o SAPO publica aqui as respostas dadas pelo partido liderado por Mariana Mortágua — o primeiro a enviar respostas aos leitores do SAPO (é reservada a identidade dos remetentes).
Veja abaixo as perguntas e respostas selecionadas.
:: Existem distritos no interior do país, Alentejo e círculo de emigração que segundo a lei eleitoral ficam prejudicados em termos de percentagem de votos desperdiçados porque elegem poucos deputados, forçando muitos a optar pelo 'voto útil'. Porque é que os partidos de esquerda não apresentam listas conjuntas nestes distritos para oferecer uma alternativa de relevo aos eleitores?
"No Bloco de Esquerda os entendimentos à esquerda são o nosso modo de ser. O Bloco nasceu da união de três partidos e foi assim que abriu espaço à esquerda progressista no Parlamento. Na altura da troika, foi também o Bloco que iniciou o trabalho que juntou deputados e deputadas para travar os cortes inconstitucionais que a maioria absoluta PSD/CDS estava a impor. Em 2015, fomos os primeiros a afirmar que era possível uma maioria à esquerda no Parlamento, o que veio a suceder. E aqui estamos, para continuar o trabalho de pontes e convergência à esquerda", escreve a líder do BE em resposta aos que a questionam.
"Também temos propostas sobre o sistema eleitoral, como o círculo de compensação nacional, porque se é certo que todos os votos contam, não é menos certo que todos deviam poder eleger", frisa ainda, em reação a uma das principais preocupações dos portugueses, o desperdício de votos e a distorção trazida pelo "voto útil".
:: Em 2023 comprei um T1 na Amora. Este ano "casei" e pretendo alugar a casa pois pago 532€ de mensalidade ao banco e ainda os respetivos impostos anuais. Com a sua proposta de teto para as rendas, devo arrendar ou vender para não perder dinheiro?
"O teto às rendas é a definição de valor máximo de renda, tendo em conta as características do imóvel. Com estes dados, não podemos dizer qual seria a renda máxima possível. Mas temos a certeza que a nossa proposta ia ajudar nesta situação.
O teto às rendas quer dizer que a nova casa que procura ficaria com uma renda mais baixa do que está a ser praticado neste momento no mercado. E se combinarmos esta medida com a nossa proposta para baixar de juros no crédito à habitação, através de uma nova política de crédito impulsionado a partir da CGD, é certo que ficaria a ganhar. Prestação mais baixa e renda mais baixa.
Portugal é o país da OCDE onde é mais difícil arranjar habitação. Baixar os preços das casas é mais salário disponível, em todos os casos."
:: Porquê distribuir a riqueza dos ricos? Foram eles que arriscaram um negócio – será que não têm mérito próprio? Se distribuirmos os lucros dos ricos, estamos a passar uma ideia de que não vale a pena ser empreendedor. Um país sem empreendedores é um país de terceiro mundo.
"A proposta do Bloco é de taxação de 1,7% de fortunas líquidas acima de 3 milhões de euros. Não retira nenhum incentivo. Apenas redistribui melhor. As fortunas muito elevadas estão ao alcance de muito poucos; apenas 0,5% dos contribuintes portugueses atingem este patamar. A generalidade dos empresários portugueses não tem fortunas destas. E é bom lembrar que fortunas de milhões são constituídas sobretudo por herança e repousam num sistema económico de salários baixos. Pedir um pequeno esforço a quem tem tanto para financiar as pensões mais baixas é reequilibrar o jogo. Não pode ser quem vive do seu salário a suportar todo o esforço fiscal do país. E quem tem 3 milhões de euros líquidos, não só não sentirá a falta desse 1,7% como estará a cumprir um dever básico de solidariedade."