A decisão do tribunal de Haia foi tomada depois de os procuradores terem transmitido aos juízes, no início de fevereiro, que tinham "informações suficientes e fiáveis" de que Deif tinha morrido em julho na Faixa de Gaza.

"Consequentemente, o Tribunal decide encerrar o processo contra o Sr. Deif e tornar ineficaz o mandado de detenção emitido contra ele", informou o juiz Nicolas Guillou, numa decisão escrita.

Guillou acrescentou que a ordem "não prejudica a possibilidade de iniciar novos procedimentos caso surjam informações que indiquem que o Sr. Deif ainda está vivo".

Em agosto do ano passado, o Exército israelita anunciou que tinha abatido o líder militar do Hamas na Faixa de Gaza, num ataque aéreo realizado no dia 13 do mês anterior na zona humanitária de al-Mawasi, no sul do enclave palestiniano, juntamente com o seu braço direito, Rafaa Salameh.

Este ataque israelita matou também outros 90 palestinianos e fez mais de 300 feridos, segundo as autoridades locais, controladas pelo Hamas.

O grupo palestiniano só confirmou a morte de Mohammed Deif no final do mês passado.

O antigo obscuro líder militar do Hamas foi um dos alegados mentores do ataque de 07 de outubro de 2023 em Israel, que desencadeou a guerra na Faixa de Gaza, e era considerado o "número dois" do grupo islamita no enclave, apenas atrás de Yahya Sinouar, também morto no ano passado numa operação israelita em Rafah.

Estava desde a década de 1990 na lista dos homens mais procurados de Israel, que o considerava responsável por planear e executar vários ataques terroristas, incluindo atentados suicidas, e figurava desde 2015 na lista de "terroristas internacionais" dos Estados Unidos.

Desde novembro, tinha pendente um mandado de detenção do TPI, apesar do anúncio israelita da sua morte, por crimes de guerra e contra a humanidade cometidos nos territórios de Israel e da Palestina a partir 07 de outubro de 2023.

Na altura, o tribunal internacional sediado em Haia emitiu também mandados de detenção para o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e para o então ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes contra a humanidade e crimes de guerra relacionados com o mais recente conflito na Palestina.

Nascido em 1965 no campo de refugiados de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, Mohammed Diab Ibrahim al-Masri, conhecido como Mohammed Deif, juntou-se ao Hamas no início da Primeira Intifada, em 1987.

Foi subindo na hierarquia do Hamas até chegar em 2002 a líder das brigadas al-Qassam, braço armado do movimento palestiniano, e é-lhe atribuído um papel fundamental na vasta rede de túneis construída sob a Faixa de Gaza.

Os seus inimigos chamavam-no "o gato com nove vidas" devido às numerosas ocasiões em que escapou de atentados e ataques israelitas e várias tentativas de o capturar vivo ou morto.

No entanto, perdeu a mulher e o filho de sete meses em 2014 num ataque israelita.

As suas aparições públicas eram raras, tal com as imagens dele conhecidas. Em vários vídeos, aparecia por vezes mascarado ou em silhueta e, em janeiro de 2024, Israel publicou uma fotografia de Deif sem um olho, sem especificar quando foi tirada.

A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelo ataque do Hamas em Israel em 07 de outubro de 2023, que fez cerca de 1.200 mortos e 250 reféns.

Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala, que provocou mais de 48 mil mortos, na maioria civis, segundo as autoridades locais, e destruiu o enclave palestiniano.

As partes chegaram a um acordo de cessar-fogo que entrou em vigor em 19 de janeiro, mas a três dias do término da primeira de três fases ainda não foram negociados os termos da segunda, que deveria pôr termo à guerra.

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