
O ministro sul-africano dos Negócios Estrangeiros, Ronald Lamola, disse hoje que os 'afrikaners' (sul-africanos brancos descendentes de colonos holandeses) acolhidos nos Estados Unidos como refugiados "não podem apresentar qualquer prova de perseguição".
Um grupo de 49 afrikaners vai desembarcar esta segunda-feira nos Estados Unidos, ao abrigo da promessa do Presidente norte-americano, Donald Trump, de acolhê-los como refugiados por discriminação. Esta decisão resultou de uma ordem executiva de Trump, que afirma que os sul-africanos brancos foram despojados das suas terras e são vítimas de "genocídio".
"Eles não podem apresentar qualquer prova de perseguição, porque não há qualquer forma de perseguição contra os sul-africanos brancos ou afrikaners", disse o chefe da diplomacia sul-africana. "Várias estatísticas no nosso país, incluindo relatórios policiais, não apoiam a alegação de perseguição de sul-africanos brancos com base na raça. A criminalidade vivida na África do Sul afeta toda a gente", acrescentou.
"De acordo com a definição internacional, não reúnem as condições necessárias para beneficiar deste estatuto [de refugiado], na nossa opinião", acrescentou. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da África do Sul declarou não ter recebido qualquer informação sobre a identidade das pessoas acolhidas nos Estados Unidos, uma vez que o procedimento é confidencial para o país de origem.
Há meses que a nova administração norte-americana tem como alvo o país. Em fevereiro, o chefe de Estado norte-americano ordenou a suspensão da ajuda económica à África do Sul, acusando o seu Governo de "confiscar" terras à minoria afrikaner.
De acordo com um relatório governamental de 2017 - o mais recente disponível sobre o assunto -, mais de 72% das terras agrícolas privadas são propriedade de brancos, o que representa menos de 8% do total.
Descendentes de colonos holandeses que chegaram à ponta da África há mais de três séculos, os afrikaners representam a maioria da população branca do país. Foi dessa parcela da população que vieram os líderes políticos que estabeleceram o 'apartheid', um sistema de segregação racial que privou a população negra --- a grande maioria do país --- da maior parte dos seus direitos, de 1948 até ao início da década de 1990.